Estive de férias, mas não estive desatento. E a semana que passou foi rica em acontecimentos, desde o trágico incidente em Barajas, ao cerco da Geórgia, aos recordes fantásticos do Michael Phelps e do Usain Bolt, ao cubano que pontapeou o árbitro por discordar da eliminação no taewando, ou o sueco que deitou a medalha fora. Assim, ainda emiscuido no espírito olímpico, decidi atribuir as minhas medalhas para os últimos acontecimentos que eu considerei relevantes. Cá vão, no regresso do Cantinho à actividade:
MEDALHA DE OURO:
O ouro tem de inevitavelmente ir para Nélson Évora e Vanessa Fernandes. Foram o grande destaque de toda a comunitiva lusa nos jogos Olímpicos de Pequim, que se pautou, na sua generalidade, pela mediocridade dos resultados dos atletas nacionais.
Nélson Évora com o ouro no triplo salto provou que, com vontade, trabalho e talento, é possível, até em Portugal, almejar ao mais alto degrau da consagração olímpica. A Vanessa Fernandes só não trouxe o ouro no triatlo porque naquele dia houve uma australiana simplesmente fabulosa. Mas deixou em Pequim tudo o que tinha, deu o máximo e trouxe a prata.
Em comum há traços dos nossos antepassados que se diluíram com o passar das páginas do tempo. Há a vontade de vencer, há o espírito ganhador, há o ímpeto competitivo, há a vontade de ir mais além, sem quaisquer desculpas de "mau pagador", sem se refugiar nas condições disponíveis, sem procurar "bodes expiatórios" dos seus males. E, quer queiramos quer não, isso conta muito. Uma verdadeira pedrada no charco nacional.
MEDALHA DE PRATA:
Daniel Miguel Alves Gomes - nome de guerra Danny - é um luso descendente, nascido a 7 de Agosto de 1983, em Caracas, na Venezuela. Filho de pais emigrantes naturais da Madeira, veio para a Ilha aos 14/15 anos para jogar à bola no Marítimo.
Cedo deu nas vistas e com apenas 17 anos já se estreava pela equipa principal onde pegou "de estaca". As suas exibições deixaram o Sporting a salivar pelo seu concurso, tendo este, em 2002, adquirido o seu passe por cerca de € 2,1 milhões de euros na altura.
Em Fevereiro de 2005, chegou no Dínamo de Moscovo, durante o período de grande procura de jogadores lusos pelos clubes russos. Onde os outros falharam, Danny consagrou-se e, ano após ano, cresceu como jogador e daí a ser idolatrado pelos fieis russos foi um mero passo lógico. Tanto que, hoje, o colosso de São Petersburgo, o Zenit, actual detentor da Taça UEFA, não hesitou em oferecer 30 milhões de euros pelo seu passe.
Aos 25 anos, e após a primeira chamada à selecção A de Portugal, pela mão de Carlos Queirós, Danny transforma-se na contratação mais cara de sempre do futebol russo.
MEDALHA DE BRONZE:
O Funchal, a cidade onde nasci, celebrou 500 anos após a sua elevação a este estatuto. Estavamos nós no dia 21 de Agosto do ano da graça 1508, em que o Rei D. Manuel I, O Venturoso, encontrando-se nos seus Paços de Sintra, houve por bem elevar aquela mui nobre e leal Vila à categoria de Cidade.
É curioso rever, 500 anos depois, os motivos para el-Rei elevar o Funchal a tão nobre estatuto. Por “…ter crescido em mui grande povoação e como vivem nela muitos fidalgos, cavaleiros e pessoas honradas e de grandes fazendas pelas quais e pelo grande trato da dita ilha, esperamos com a ajuda de Nosso Senhor que a dita vila muito mais se enobreça e acrescente e havendo respeito ao serviço que recebemos dos moradores e esperamos ao diante receber e também por folgarmos de fazer bem e mercê aos ditos fidalgos, cavaleiros, escudeiros e povo dela…”
A primeira cidade criada pelos europeus fora do velho Continente, coroou de êxito a epopeia marítima, iniciada com o achamento das Ilhas no Atlântico, bases de apoio aos descobrimentos, e premiou o esforço hercúleo dos nossos antepassados ao lavrar a terra bruta e informe, que deu pão e riqueza, após aquele pavoroso incêndio ao efectuarem queimadas na floresta densa a fim de aí lançarem as sementes da cultura de subsistência. Há que sentir orgulho.
MEDALHA DE LATA:
Ontem o Marítimo iniciou a sua campanha na nova Liga Sagres com uma desconsolada derrota na Figueira da Foz, frente à Naval 1º de Maio - estádio onde nos dois últimos anos tinha vencido. A formação dirigida pelo técnico brasileiro Lori Sandri viu-se em grande dificuldades para virar um resultado, que ficou decidido logo ao terceiro minuto, na primeira ida à baliza defendida por Marcos.
A verdade é que o Marítimo está a pagar uma factura demasiado alta por erros de gestão que já chateiam. Primeiro, bem ou mal, dispensa-se um treinador que trouxe resultados para irmos buscar outro, desconhecido, e sem qualquer conhecimento do futebol português e europeu. Atendendo que vamos jogar uma eliminatória na Taça UEFA creio que seria um risco evitável. Depois um estágio em São Vicente, com um campo sem condições para responder às exigências de uma equipa de topo. Seguiu-se uma viagem à Venezuela em contornos dantescos, com a equipa a ser obrigada a mudar constantemente de hotel e a treinar num campo cercado de serpentes! Mais tempo perdido. Como se não bastasse, dispensa-se jogadores sem assegurar os seus substitutos, que vão chegando a conta-gotas, alguns já com o campeonato a rolar!
Os resultados estão à vista. Uma equipa ainda à procura do seu "onze", ainda em pré-época. E com jogos decisivos já a bater à porta. Os adeptos cada vez mais contestatários, que nem sequer a ida a uma competição europeia anima. São demasiados erros que, a este nível, se pagam caro. A ver vamos.