(Foto: Mapa da Geórgia, com as regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abcásia assinaladas/Sapo.pt)
No blogue do António de Almeida li que, na sua opinião, o conflito na zona do mar Cáspio tem contornos semelhantes ao ocorrido há poucos anos nos Balcãs. Apenas mudam os protagonistas. De facto não consigo discordar. Então vejamos:
Uma província - a Ossétia do Sul (com a Abkhasia por arrasto), cuja população é na sua maioria Russa, pretende separar-se da Geórgia. No conflito anterior, uma província Servia - o Kosovo - cuja maioria da população era Albanesa, que pretendia separar-se da Sérvia.
No actual conflito, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili defendeu-se afirmando que enviou o seu exército, para uma província que (ainda) é parte integrante do seu território. No conflito anterior, foi essa a exacta argumentação de Slobodan Milosevic, o então presidente da Servia.
Nos últimos dias a Rússia interveio militarmente, exigindo a retirada das tropas georgianas, tendo bombardeado vários alvos em Tbilissi, capital da Geórgia. No conflito anterior, a NATO interveio militarmente, exigindo a retirada das tropas Servias do Kosovo, tendo bombardeado alvos específicos em Belgrado.
Do conflito do Kosovo, alicerçado numa acusação de genocídio praticado pelas forças Sérvias que não se veio a comprovar, resultou uma nova base militar para os Estados Unidos, a proclamação unilateral da independência do território com o apoio americano, e a deposição do presidente Sérvio.
Do conflito actual ainda não temos resultados mas alguém acredita que a Rússia não irá procurar "forçar" a independência do território, com os evidentes benefícios que irá retirar para si desta nova situação geográfica? É verdade que poderão estar a abrir a 'caixa de Pandora' relativamente à questão da Tchechénia, mas a Rússia, ao contrário da Sérvia, tem recursos e meios para se opor aos movimentos de "copy cat" que poderão surgir naquele território.
Mas há outra razão que poderá estar a impulsionar a Rússia nesta arriscada manobra. A Geórgia é um importante corredor para o transporte de gás e petróleo do Mar Cáspio para o Ocidente. Com o existente conflito corre o risco de perder este estatuto e, em particular, colocar em 'cheque' a segurança do novo oleoduto BTC construído a custos altíssimos.
Como a Geórgia não produz petróleo, as companhias de energia ocidentais apostaram neste país pró-ocidental, situado entre o Irão e o monopólio dos oleodutos e gasodutos russos, para ajudar nas exportações de hidrocarbonetos extraídos do Azerbaijão, à beira do Mar Cáspio. Nesta decisão foi importante a subida ao poder do presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, em 2004, que promoveu a aproximação de Tbilisi com os EUA e a Europa, algo não muito bem visto pelos lados do Kremlin.
Veremos o que os próximos dias nos reservam.
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