Medicina é provavelmente em Portugal o único curso cuja oferta não corresponde à procura. Antigamente quem não conseguia entrar para Medicina ia para outro curso paralelo - veterinária, enfermagem, psicologia, etc - muitas vezes ocupando os lugares de quem queria realmente ir para estes cursos. Ou então, aguardavam um ou dois anos, na expectativa de melhorar a nota para entrar o mais rapidamente possível.
Hoje a estratégia é outra. Graças a Bolonha e ao mercado da UE, cada vez mais estudantes concorrem a medicina... lá fora. Ninguém sabe ao certo quantos andam lá fora, até devido à longa duração do curso (seis anos), mas por alto, estima-se que nos próximos dois anos, cerca de uma a duas centenas de novos médicos portugueses entrarão no país.
Espanha, República Checa, Inglaterra são os destinos preferenciais para os estudantes portugueses. Estima-se que só na República Checa existem actualmente 460 portugueses a estudar Medicina. Do Brasil e da Venezuela têm igualmente chegado alguns. Só para terem uma ideia, cerca de seis por cento dos médicos portugueses que no ano passado se inscreveram na Ordem dos Médicos tiraram o curso no estrangeiro, e quase metade deles vierem de Espanha.
Perante todo este cenário, a pergunta que se coloca é: Será que voltam?
Mas note-se que um licenciado em Medicina não está imediatamente apto a exercer. Ou seja, faltam-lhe ainda os anos de especialidade e, para isso acontecer, é preciso que existam vagas de internato e condições nos hospitais para dar formação a estes portugueses quando decidirem regressar. E Portugal neste momento não vive um bom momento. O país está a ressentir-se do corte drástico de vagas em Medicina nos anos 80 que atingiu o seu mínimo em 1986, com apenas 190 vagas abertas. Resultado: falta de médicos especializados. Falta de capacidade para dar formação especializada. Falta de hospitais onde tirar a especialidade. Se pensarmos ainda na crescente fuga de profissionais do sector público para o privado, podemos dizer que Portugal vive uma verdadeira crise médica. Assim, como voltarão os novos médicos? E para quê?
Os registos oficiais mostram que nunca houve tantas vagas para cursos de Medicina em Portugal como este ano, 1614 no total. Mas a esta fornada de novos alunos junta-se aqueles que estão lá fora. Como conseguirá o país responder a uma maior procura para as especializações? Sobretudo concorrendo com outros países, onde os salários são bem superiores e as condições mais atractivas?
São muitas perguntas, é verdade. Mas a sua resposta pronta, será fundamental para a saúde do nosso país. E já dizem os mais velhos... com a saúde não se brinca.

Sem comentários:
Enviar um comentário