quarta-feira, maio 15, 2013

Há 36 anos o Marítimo fez história!




Faz hoje precisamente 36 anos anos que o Marítimo subiu pela primeira vez à I divisão do futebol português. Aconteceu a 15 de Maio de 1977. Pela primeira vez uma equipa fora do espaço continental lograva ascender ao mais alto patamar do futebol em Portugal. 

Trata-se de um marco histórico, escrito a letras de ouro pelo Club Sport Marítimo. Depois de muita luta, muito batalhar, muitas portas fechadas, a custear tudo do próprio bolso, eis que o nosso Clube Sport Marítimo chega ao mais alto patamar do futebol português. Era o culminar de uma longa caminhada que teve que ultrapassar obstáculos colocados cá e lá para ter sucesso. Com José Miguel Mendonça na chefia da direção e Pedro Gomes na orientação do plantel, uma equipa atingia aquilo que nunca uma outra havia alcançado.  

Nesse dia 15 de Maio de 1977, que o Marítimo recebia, no Estádio dos Barreiros, o Olhanense. ‘Cheio que nem um ovo’, diziam os comentadores, a propósito da enchente nos Barreiros nesse dia. Pendurados nos postes de iluminação, sobre os muros que rodeiam o Estádio, empoleirados nos galhos das árvores que ainda existiam no sector do ‘Peão’ e no espaço que com ele confina, na pista, sobre as cabinas e os bares, até sobre a pala que protege a bancada central, qualquer lugar servia para ver o grande jogo. E muitos tiveram de ficar de fora, nas ruas que ladeiam o Estádio, nas rochas sobranceiras à baliza das cabinas.

Ao meio dia os portões abriram-se, e poucos minutos depois, mais de metade da lotação ‘oficial’ do Estádio estava ocupada. Dos altifalantes do Estádio ouve-se a marcha do Marítimo. Os presentes cantam e aos cantos juntam preces e promessas a cumprir no caso de vitória. Uma ‘cruz’ de alecrim dá várias voltas ao Estádio, para afastar o ‘mau olhado’. Cartazes com as mais variadas mensagens são exibidos um pouco por todo o lado. O Estádio está completamente cheio. A solta de pombos e o lançamento de panfletos sobre a bancada central torna o ambiente ‘vulcânico’, tal qual acontecera num primeiro momento, com a leitura do comunicado do Governo Regional da Madeira a anunciar que, em caso de vitória, ‘amanhã é feriado’.


Quando o Marítimo entra em campo, dos foguetes que estalam à volta do Estádio só se detectam os clarões. O rebentamento é abafado por mais de vinte mil vozes que gritam incessantemente ‘Marítimo, Marítimo, Marítimo’. Não houve tempo para recuperar do esforço vocal que acompanhou a entrada da equipa em campo. Aos sete minutos de jogo, Nelson cobra um livre colocando a bola nos pés de Eduardinho, que vai à linha de fundo cruzar para a cabeça vitoriosa de Norberto. Dá-se a primeira invasão de campo. Pacífica, como era, de resto, toda a festa. Quando o público começava a ‘acalmar’, surge o segundo golo. Arnaldo desmarca Noberto entre os defesas algarvios e este ‘bisa’, rematando fora do alcance de João Luís, o guarda-redes adversário. Iam decorridos 13 minutos de jogo. Nova invasão. Não há maneira disto acalmar. Aos 20 minutos é a vez de Calisto ir à linha de fundo realizar o cruzamento que coloca a bola na cabeça de Nelson. Assim se fez o 3-0. E com ele, pela terceira vez entram em campo centenas de adeptos verde-rubros, a festejar a vitória que já não podia falhar.

O público já rebentou de alegria por três vezes, as suficientes para que se ouçam grupos de sócios gritar ‘Marítimo é campeão’, ‘Marítimo é campeão’, ‘Marítimo é campeão’. Os jogadores do Marítimo, bem, fazem a gestão da vantagem; os adversários esboçam alguma reacção, mas não chegam a perturbar seriamente a baliza verde-rubra. E como o desfecho do jogo dificilmente deixará de ser favorável ao Marítimo, as exibições de folclore no intervalo são apenas um leve complemento à festa que todos e cada um dos presentes faz no seu lugar. 

Na segunda parte chega o quarto golo do Marítimo, agora Noémio a iniciar a jogada que vai culminar em cruzamento para o remate certeiro de Arnaldo. Claro que houve nova invasão de campo. Faltavam agora sete minutos para o apito final do árbitro. Quando esse apito acontece, a confirmação plena da vitória transforma-se em nova invasão. Os milhares de adeptos que pisam o relvado querem o impossível: a braçadeira do capitão, a camisola dos jogadores, os calções, as meias, as botas, os atacadores destas, se mais não houvesse. E não havia meio de a todos satisfazer, tão poucos eram os que a tantos podiam oferecer alguma coisa que imortalizasse a vitória mais saborosa de todas quantas o Marítimo ofereceu a estas gerações de madeirenses que, do Estádio aos confins do Mundo, se orgulham da terra-mãe e do seu clube campeão.


Na cidade do Funchal vivem-se momentos de indescritível alegria. Da zona velha às zonas altas, do centro à zona onde está instalada a maioria dos hotéis, das tascas populares aos bares mais requintados, dos espaços de convívio público ao mais recatado dos lares, ninguém resiste à emoção de sentir realizado o maior dos sonhos do futebol madeirense nas últimas décadas. Já se sabe que o dia após a vitória é feriado, decretado pelo presidente do Governo Regional da Madeira e sócio do clube, ainda o Eng. Jaime de Ornelas Camacho. As mais diversas formas de comemoração da vitória são o escape para tanta alegria; entre os maritimistas mais fortemente vinculados ao clube, o sentido de missão cumprida no presente é par do orgulho de um passado glorioso, vezes sem fim contado aos vindouros e outras tantas recordado com carinho.

Da generalidade dos clubes continentais são enviadas diversas mensagens de felicitações ao Marítimo. No momento do triunfo, até alguns que tudo fizeram para que o campeão da Madeira nunca participasse em provas nacionais prestam homenagem. Destaque particular merecem, naturalmente, as mensagens enviadas pelo Benfica, Sporting, Porto, Boavista, Guimarães, Belenenses, Braga, Vitória de Setúbal, entre outros, que cumprimentam o futuro parceiro.

"É com imensa alegria e satisfação que nos associamos à grande festa do glorioso Marítimo, pois vencendo tudo e todos, galardoouse ao escalão máximo do futebol nacional, por mérito próprio, num empreendimento arrojado mercê de condicionalismos impostos e de flagrante injustiça para o futebol da nossa terra. A Direcção do Sporting Clube da Madeira não podendo ficar indiferente a tal demonstração de valor, vem manifestar a V. Exas. O seu apreço e regozijar-se com semelhante facto, pois não só está de parabéns o grande Marítimo como o desporto da nossa Ilha. Felicitando V. Exas., e toda a massa associativa, desejamos os maiores êxitos ao Club Sport Marítimo e apresentamos os melhores cumprimentos". (Sporting da Madeira, do dia 18 de Maio)

Igual interesse têm as dezenas de missivas de sócios, adeptos e simpatizantes do Marítimo espalhados um pouco por toda a parte. Oriundas de todas as grandes cidades continentais e das grandes metrópoles de países estrangeiros onde labutam madeirenses, chovem telegramas e cartas na sede do Marítimo. Da sua leitura fica-se a saber como se realizaram festejos entre pequenos grupos de madeirenses radicados em Lisboa, no Porto, em Coimbra. De Macau chega a carta de um adepto disponível para contribuir para uma presença sólida na I divisão. As agremiações de madeirenses espalhadas por todo o Mundo exultam da Venezuela à África do Sul, dos Estados Unidos da América à Austrália, de Inglaterra às ex-colónias portuguesas, a subida verde-rubra à I divisão foi sentidamente comemorada.

Entretanto o Marítimo termina o campeonato nesse ano como campeão nacional da II divisão, conquistando o seu segundo título nacional de futebol, 51 anos depois de ter sido o Campeão de Portugal da época 1925/26. Os únicos que alguma equipa madeirense alcançara até então. Quebrava-se assim definitivamente o afastamento das ilhas do território nacional.

Seguiram-se novos e mais importantes desafios. O Marítimo teve de enfrentar enormes batalhas, entre as quais o desfazer das condições humilhantes que ainda forçavam o ‘pagamento’ aos adversários para que pudesse ser considerado um clube português de pleno direito. É isto o que significa ser Marítimista. O CS Marítimo não é apenas um clube, daqueles que nasceram apenas para praticar desporto ou para fazer algum ganhar dinheiro. O CS Marítimo representa a própria Região. É uma parte da sua história e faz parte dos seus vencedores. Ignorar isto, é desprezar grande parte da história da nossa ilha e da luta pela nossa autonomia. Poucos são os clubes que se podem orgulhar de um passado que é feito de conquistas, desportivas, mas também políticas e sociais. Passados estes 36 anos, o Clube Sport Marítimo consolidou-se como um dos principais emblemas de Portugal. E pese embora todas as dificuldades redobradas que enfrenta todos nossos dias, com a ajuda de todos nós, os mais novos adeptos verde-rubros, irá, mais uma vez, superar essas dificuldades e a si próprio!

VIVÓ MARÍTIMO! 

3 comentários:

Anónimo disse...

Arrepiei-me com este texto. Valente.

IRREDUTIVELCSM disse...

Gostava que voltasse este sentimento, este amor pelo Marítimo como existia há 36 anos. Este respeito, esta gratidão e um Caldeirão a rebentar pelas costuras.
Isto é o (que deveria ser o) Marítimo.

IRREDUTIVELCSM disse...

Esta paixão, respeito, orgulho e gratidão pelo que o clube representava e conquistava hoje estão esquecidos.
Gostava que um dia o Marítimo voltasse a ser como em 1977.