quarta-feira, agosto 15, 2012

O Caso Pussy Riot


(Na foto: Tolokonnikova, Aliokhina e Samutsevich já detidas)

Nadezhda Tolokonnikova (22 anos), Maria Aliokhina (24), e Iekaterina Samutsevich (29), estam presas há quase seis meses. Entretanto apresentadas a julgamento no final de Julho do corrente ano, está a ser alvo de muitas críticas pela defesa das senhoras, que se queixa da rapidez dos procedimentos, da impossibilidade de chamar testemunhas e de ver as suas perguntas permanentemente rejeitadas pela juíz do processo.

Mas que caso é este afinal?

Estas meninas, juntamente com outras quatro raparigas, formam as "Pussy Riot", uma banda punk feminista inicialmente anónima, com letras abertamente anti-Putin e contra o governo russo. A banda foi formada em Setembro de 2011, pouco depois que Putin anunciou que ia se candidatar novamente à presidência em Março de 2012.

Desde sua formação as "Pussy Riot" foram manchete por uma série de shows ilegais, tendo inclusive tocado a música “Revolt in Russia” na simbólica Praça Vermelha em Janeiro deste ano. No final do espectáculo foram presas por violar as rígidas leis russas a respeito de protestos ilegais, mas daquela vez foram libertadas.

Um pouco antes da eleição de 3 de Março deste ano, na qual Putin retornou ao poder na Rússia, mais precisamente no dia 21 de Fevereiro a banda tocou em protesto dentro do mais importante monumento do ortodoxismo russo, a Catedral do Cristo-Salvador em Moscovo, e foram novamente presas. Desta vez nem todas foram libertadas.


Acusadas de "vandalismo premeditado realizado por grupo organizado de pessoas motivado por ódio religioso ou hostilidade", uma acusação com cerca de 2800 páginas, as três senhoras incorrem numa pena até 7 anos de prisão, caso venham a ser consideradas culpadas. A sentença está agendada para o próximo dia 17 de Agosto.

Se é verdade que há acusações de parte a parte, tendo Tolokonnikova na sua última declaração e perante a audiência que assistia ao julgamento comparado este processo aos “das troikas da época de Estaline”, mencionando os julgamentos arbitrários e rápidos da era estalinista realizados por grupos de três pessoas (troika) que na época do terror condenavam a anos em campos de trabalho ou mesmo à morte, não tem faltado apoio às activistas de diferentes quadrantes.

Têm sido muitos os artistas internacionais (as mais recentes Yoko Ono ou Madonna que, durante o seu concerto em Moscovo, assegurou rezar pola sua libertação). Também têm estado a receber o apoio de políticos, entre os quais os 120 deputados do Parlamento Alemão e o ministro checo dos Negócios Estrangeiros. O diário russo Kommersant estima mesmo que “a multiplicação de críticas ao processo Pussy Riot pelos EUA e pela UE, poderá ser uma das principais causas de irritação entre o Ocidente e a Rússia”, e prejudicar as tentativas do Kremlin melhorar a imagem da Rússia no estrangeiro.

Se é certo que a acusação tem ignorado o elemento de protesto político e acusado as activistas dum crime de ódio religioso, pedindo três anos de prisão, quer-me parecer que a mediatização deste processo poderá mesmo explodir-lhes na cara. O problema não é o preenchimento do elemento típico que configura o crime (aparentemente ele existe e, aparentemente repito, as meninas o cometeram) mas sim o facto de todo o peso político que existe em um sistema vigente punir alguém que é manifestamente contra esse mesmo sistema. Particularmente quando se assiste às dificuldades "técnicas" impostas à defesa. Particularmente quando se quer resolver o assunto o mais rapidamente possível. Particularmente quando praticamente ninguém dúvida que a "ordem veio de cima"...

Aguardo com curiosidade o desfecho.

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