Quatro dias depois do fogo ter queimado em instantes quase toda a sua vegetação e cinco anos de trabalho de muitos voluntários que acreditaram no retorno da biodiversidade àquele pequeno planalto localizado no rebordo oriental do maciço encimado pelo Pico do Areeiro, o Prof. Raimundo Quintal regressou ao Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha e fotografou tudo o que viu.
O ambiente era silencioso, esmagadoramente negro e com odor a morte. Em toda a cordilheira central, até quase perder de vista, tudo está negro com excepção da esfera branca do radar, que definitivamente é a marca dum pico desfigurado.
As fotografias abaixo, mais do que as quaisquer palavras, mostram como a malvadez de alguns seres desumanos, ajudada pela inexistência duma cultura de prevenção podem, em poucas horas, provocar graves rupturas nos ecossistemas desta pequena ilha e aumentar significativamente o risco duma cidade rasgada por três ribeiras.
Seis meses após as cheias repentinas e mortíferas de 20 de Fevereiro, a Ilha da Madeira ficou ecologicamente muito mais pobre e com um futuro económico sombrio, não porque a Natureza tenha sido madrasta, mas, bem pelo contrário, porque foi cobardemente queimada.
Depois de tudo o que aconteceu nos dias 13 e 14, não se poderão continuar a cometer os mesmos erros e a eleger o clima como bode expiatório. É tempo de debater sem complexos "A Protecção Civil e a Gestão das Florestas". Aos responsáveis políticos desta Região, e especialmente a quem arrogantemente cultivou o discurso do domínio da Natureza, a sábia mensagem de Francis Bacon (1561 - 1626): "SÓ SE PODE VENCER A NATUREZA, OBEDECENDO-LHE".
(Foto 1: Área ardida no Cabeço da Lenha e reacendimentos)
(Foto 3: Pico do Radar / Pico do Areeiro)
(Foto 4: Vale da Fajã da Nogueira - esta era uma das vistas mais bonitas da Madeira)
(Foto 5: Por entre os esqueletos das urzes há imensas garrafas)
(Foto 6: Poço da Neve com o Funchal em segundo plano)
(Foto 7: Ficou assim a plantação da Associação dos Amigos do Parque Ecológico)
(Foto 8: Pico Cidrão, Pico Grande, Pico Jorge - tudo queimado)
(Foto 9: Vale da Ribeira do Cidrão -tudo ardido até ao Curral das Freiras)
(Foto 10: Pico do Radar / Pico do Areeiro)
(Foto 11: Miradouro do Ninho da Manta e Pico do Gato)
(Foto 12 - O verde desapareceu entre o Areeiro e o Pico Ruivo)
(Foto 13: Entre o Pico das Torres e o Pico Ruivo)
(Foto 14: Cabeceira da Ribeira de Santa Luzia)
(Foto 15: Ribeira das Cales - escorregamentos de 20 de Fevereiro e área ardida a 13 de Agosto)
Todas as fotos: Prof. Raimundo Quintal
1 comentário:
Recordo com tristeza estas imagens.
A mágoa ainda se mantém e o desejo de justiça mantém-se agonizante.
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