sexta-feira, setembro 26, 2008

A morte do Sistema I

 


O plano da presidência de Bush para salvar a economia americana (e por arrasto a do mundo) é, imagine-se, uma injecção de 700 mil milhões de dólares (cerca de 475 mil milhões de euros), com o objectivo de adquirir os créditos "podres" do mercado imobiliário – os empréstimos de alto risco que não vêm sendo pagos pelos mutuários.


Embora Bush venha dizer que “este esforço de salvamento não visa preservar as empresas ou as indústrias de certos indivíduos" e que "visa preservar a economia norte-americana em geral”, a verdade é que, está a salvar os verdadeiros responsáveis por esta crise, como a Morgan Stanley, a Merrill Lynch, o Citigroup, os Fannie Mae e Freddy Mac, a Lehman Brothers, e outras especuladoras de mercado. E sem esquecer que esta operação irá onerar em mais 14% a dívida do estado norte-americano - o que significa que estará a onerar os cidadãos que irão sentir no inevitável aumento dos impostos e taxas subsidiárias.


Ou seja, compram os créditos mal parados e incobráveis destas empresas, que durante anos usaram e abusaram de "produtos, estratagemas, créditos, juros hipotecários" - os mesmos créditos que estavam a causar a desvalorização destas empresas - e restauram a sua firmeza económica e financeira para, daqui a alguns anos, voltarem ao ponto de partida. Esta política neo-liberal, de que o Estado não pode ou não deve intervir nas relações de mercado (lembram-se da teoria da Mão Invisível de Adam Smith?), tem dado azo a uma balbúrdia e uma euforia especutativa mercantil nunca vista. São crises atrás de crises, sendo que, quem acaba por se lixar é o mexilhão, ou seja, todos nós. Ficamos à mercê da ganância, dos esquemas e fraudes


Este sistema já causou danos vários que, mais tarde ou mais cedo, acabam sempre snuma intevenção financeira do Estado. A Primavera de 1997 abalava os mercados do leste asiático foi acalmada com a intenvenção estatal. Em 2002 o escândalo da "WorldCom", uma megafraude de mil milhões de dólares entre 1997 e 2001, que veio a apressar o crash e o subsequente colapso da indústria das telecom e das dot.com, acabou numa regulação do mercado pelo Estado. Actualmente, a crise do mercado imobiliário só será safa com a intervenção directa das instituiçãos governamentais. E depois? Limpamos a "ficha" destas empresas e voltamos ao mesmo?


E não nos esqueçamos: estamos a falar da maior economia do novo mundo globalizante, que nos afecta a todos, estejamos em Portugal ou na Nova Zelândia. Como aponta Robert Brenner, Director do Centro de Teoria Social e História Comparada da UCLA, com a entrada dos EUA no seu declínio cíclico, o resto do mundo foi também arrastado. Sob o impacto da diminuição das importações americanas, as economias do Japão, Europa e leste asiático começaram a perder elan, o que causou nova descida acentuada das exportações dos EUA e contribuiu para deprimir ainda mais o crescimento. Este processo recessivo internacional que mutuamente se reforça é mais preocupante devido ao ponto a que as economias do resto do mundo, face a uma procura interna estagnante, se tornaram dependentes das exportações, nas duas últimas décadas, dependendo assim, também, de uma economia americana que, consequentemente, só pode contar consigo própria para sair da crise." (podem ler aqui o muito, muito interessante artigo do professor, na íntegra)


A intervenção estatal é obrigatória, como peso regulador de toda a relação comercial. Não temos que ter um Estado dominante, mas precisamos de um estado vigilante, com regras específicas que não permita novos abusos e desvairios especulativos do mercado. E há que punir os responsáveis pela situação que nos encontramos actualmente! O petróleo sobe, a gasolina sobe, as rendas sobem, os juros sobem. E ninguém regula isto? Impensável...

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