O presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, foi alvo ontem à tarde de uma recepção (quase) nunca vista na Madeira, na inauguração da nova sede da Associação de Escoteiros de
Portugal (AEP), situada na Nazaré. Parecida só me lembro mesmo da famosa vaia no Estádio dos Barreiros, pelos adeptos do Marítimo, aquando da tentativa do clube único. Mas os tempos eram outros.
Logo na chegada do carro
oficial, foi recebido com um coro intenso de assobios, sendo mimado
também com alguns insultos, como o de "gatuno". Populares situados nas
proximidades da sede dos escuteiros gritaram também "vai tapar o
buraco", entre outros impropérios, além de se ter ouvido cantar, pela
voz de uma mulher, o 'Grândola, Vila Morena'.
À saída, as vozes elevaram-se e, entre
referências pouco perceptíveis a 'tachos', a 'função pública' e
autênticos insultos, foram muitas as 'mensagens' dirigidas pelo povo ao
governante, inclusive a de que ali estava a visitar um bairro pobre e
que ainda ia haver 'telenovela'.
Mas Jardim reagiu mal e acabou por se dirigir àqueles que o insultavam, dizendo-lhes "Não
vale a pena ladrar, porque ainda não aprenderam a ser cachorros".
O que só fez ajudar a incendiar mais a situação. Reacções do género "cachorros há é muitos atrás de você,
bastantes!", ou 'ladras, ladras, ladras, mas não mordes a ninguém!",
"carneiro" e por aí adiante, até ao presidente abandonar o local, escoltado pelos polícias que o
guardavam, os quais também tiveram direito a ouvir coisas como "vai
atrás dele, anda, pastor alemão", deixando atrás de si um rasto de
indignação.
Jardim aprende agora, quase 35 anos depois, que as pessoas são essencialmente ingratas e egoístas. Os políticos e os governantes são veículos para um fim. Agora que todos se sentem vilipendiados e que dia após dia há uma mão que lhes vai à carteira, a idolatria, os améns e afins acabaram. Habituou um povo a um determinado nível e agora, não sendo possível manter esse nível, é cobrado precisamente pelos mesmos que o mantiveram no poder este tempo todo.
Se ao menos tivesse saído uns 5 a 10 anos antes da trapalhada actual, hoje estaria de poltrona, do alto do seu merecido estatuto, a mandar os seus bitaites. E com mais saúde e menos preocupações. Agora é tarde demais. E como se não bastasse, ainda tem às costas um processo crime em curso e um Primeiro-Ministro e um Presidente da República que o querem ver pelas costas. Tempos difíceis...
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