terça-feira, novembro 30, 2010

A revolução de Cantona

 


 
Há largas centenas de milhar de consumidores, para não falar em milhões, furiosos com o sistema bancário. Eu sou um deles!


A actual crise foi gerada no seio dos bancos. Começou pelos exageros na concessão de crédito imobiliário nos Estados Unidos, o chamado "subprime", e arrastou a economia mundial para uma recessão como não há memória, obrigando os Estados a resgatar bancos e a gastar muito dinheiro para dinamizar a economia e evitar consequências maiores. Na sequência deste esforço, feito com recurso à emissão de dívida, os défices públicos dispararam e rebentou a crise da dívida pública, que, agora, está a obrigar os governos de vários países a lançar ambiciosos planos de austeridade que incidem fundamentalmente sobre o aumento de impostos, redução de salários, cortes na idade da reforma.


Aqui entra a ideia de Eric Cantona. Numa entrevista dada depois da forte contestação dos franceses ao plano de austeridade, o ex-futebolista francês, que ficou conhecido tanto pelas suas qualidades como jogador como pela indisciplina e agressividade, lançou uma ideia que, a ser concretizada por um grande número de cidadãos europeus, poderia paralisar o sistema financeiro.


A ideia de Cantona é a seguinte: "Em vez de irmos para as ruas, conduzir durante quilómetros, basta ir ao banco e levantar o dinheiro. Se houver muita gente a fazer levantamentos, o sistema colapsa. Sem armas, sem sangue."


Esta proposta teve uma consequência imediata que não pode ser desprezada, já que serviu de mote a um movimento na Internet, o StopBanque, que apela aos cidadãos europeus, e não apenas aos franceses, para que façam levantamento de dinheiro, aos balcões dos bancos, num dia em concreto: 7 de Dezembro. Já terão sido manifestadas mais de 14 mil intenções de adesão a esta iniciativa, e a mensagem do StopBanque começa a ser replicada noutros países, com destaque para a Inglaterra, e também noutras redes sociais, designadamente no Facebook.


Pode um movimento maciço de levantamentos colapsar o sistema financeiro? Em teoria, pode. Apesar de serem centenas de milhar os consumidores descontentes, ou com vontade de fazer uma birra, seriam precisos apenas algumas dezenas de clientes para criar perturbação. Bastava dirigirem-se aos balcões, no mesmo dia, à mesma hora, para esgotar o pouco dinheiro que as agências têm em caixa ou nos cofres-fortes e criar uma situação de total paralisia do sistema. Os bancos apenas guardam uma pequena parte dos depósitos que recebem, canalizando o restante para empréstimos e para outros investimentos.


A vontade de aderir é muita. Mas será que essa vontade será replicada pelo mundo, no dia 7 de Dezembro? Será?

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