quarta-feira, novembro 26, 2008

Porquê eu?

 


Por falar em viagens vou relatar aqui dois episódios que aconteceram comigo no passado fim-de-semana. Por serem tão ridículos não consigo deixar aqui de partilhar convosco.


Eu não costumo viajar com qualquer mala na mão. No entanto, devido ao curto período de tempo da viagem, achei por bem levar pouca bagagem e a pouca cabia numa (relativamente) pequena mala de mão. Todos nós já ouvimos falar das complicações dos líquidos, etc., pelo que, como levava tudo comigo, tive o cuidado de verificar se não transportava líquidos ou cremes com mais de 100 ml. No entanto, no seio desses produtos, decidi levar um vulgar shampoo, numa daquelas embalagens de 250 ml. Como o produto estava quase no fim, pensei eu que não haveria qualquer problema.


Mas houve. Chegados ao controle de bagagem, pedem-me para abrir a mala. Lá o fiz permitindo que uma senhora, aparentemente mal disposta, se entrete-se a espiolhar os meus produtos. Ao ver a embalagem de shampoo disse logo: "Essa não pode ir". Não pode ir porquê? - perguntei eu. "Porque tem mais de 100 ml e não são permitidos líquidos superiores a esse valor" disse. Óbvia resposta, pensei eu. Ripostei dizendo que percebia isso mas que a embalagem não tenha nem 200, nem 100, nem sequer 50 ml, já que estava quase vazia. Logo não tinha 100 ml de líquido. A resposta foi automática: "Não pode ir. Se quiser pode despachar a bagagem para o avião, mas não pode ir consigo" - ou qualquer coisa parecida com isto. Eu não queria despachar nenhuma bagagem para o avião.


Lá insisti: mas afinal o que é mais importante? O conteúdo ou a embalagem? A resposta da senhora foi esclarecedora: "a embalagem"! Acha que isso faz algum sentido, perguntei eu? São ordens, respondeu a senhora. Mas a senhora também recebeu ordens para não pensar?... não disse bem isto mas a ideia geral ficou no ar.


Bom... eram quase 7 da manhã e não estava com vontade de entrar numa discussão filosófica sobre líquidos e sólidos. Pelo que "ofereci" a embalagem contendo restos de shampoo à senhora e segui para o avião sem o elixir para o cabelo. Prometendo a mim mesmo que da próxima vez vou levar uma pequena mochila contendo apenas embalagens grandes de shampoo... vazias.


 
A segunda história aconteceu no regresso. Isto de viajar com coisas na mão tem muito que se lhe diga. Fiz o check-in, onde verificaram a minha bagagem, a qual indiquei que iria levar na mão. Nada foi objectado. Passei pelo controlo de bagagem sem qualquer problema - não havia funcionários parvos, nem embalagens de shampoo (não se preocupem que lavei o cabelo na mesma durante a estadia). Depois de ter pago quase 4 euros pela porcaria de um sumo e dum pastel de nata no T2, dirigi-me à porta de embarque. A maior parte dos passageiros já tinha entrado, pelo que não havia fila.


Para além das senhoras do bilhete, havia um fulano de voz fininha e de nome "SS" (já explico como tenho o nome do homem, mas digo-vos desde já que fez jus ao significado das suas siglas), a verificar os cartões de identidade e de embarque... e, aparentemente, de bagagens. Mal aproximo-me do embarque, o homem olha para a minha mala (era de facto maior que o normal, mas perfeitamente transportável), e diz-me que ela não pode entrar!


Mas não pode entrar porquê?, questionei eu. Já vamos saber.


Vou tentar reproduzir o mais fielmente este diálogo tri-partido (eu, o Marco, e o tal SS).


- SS: "A mala está pesada, não está? Deixe-me ver. Posso pegar? Ah... pois, está pesada. Está pesada. Não pode entrar. Lamento".
- Eu: "Mas (ó mariconço do raio que te parta) não pode entrar porquê?!" (a parte em itálico não disse mas que apetecia...). "A mala passou no check-in, passou no controlo, e ninguém disse nada em contrário? Não percebo porque é que não pode entrar!"
- SS: "São regras. De segurança. Tivemos um acidente num voo em que um passageiro foi atingido por uma mala na cabeça. Já imaginou? A sua não pode entrar. Eu vou-lhe colocar este ticket, e deixa a mala junto à escada do avião e depois leva quando chegar à Madeira. É uma questão de segurança."
- Eu: "Que tenho eu a ver com isso? A minha mala passou no check-in. Não estou a perceber."
- SS: "A mala tem mais de 7 quilos. Com mais de sete quilos não pode ir na bagageira, tem de ir para o porão."
- Eu: "Mas onde é que isso está escrito e porque é que ninguém me disse nada? E como é que sabe que tem mais de 7 quilos? Para mais, esta mala veio na bagageira da Madeira para aqui!"
- SS: "Em que companhia?"
- Eu: "Na TAP, ora porra! Nesta!"
- SS: "Não tenho culpa de os meus colegas fazerem um mau trabalho. As regras são claras."
- Eu: "Mas onde estão essas regras? Quero ver."
- Marco: "Ainda bem que já existe a EasyJet. Vai levar vocês para o fundo." (desculpa pá, mas já não me lembro bem o que disseste, mas sei que metia a EasyJet)
- SS: "Ó senhor. Se calhar a EasyJet vai cair primeiro... (pausa)... primeiro que nós." (houve uma troca de palavras entre o Marco e o SS... não me recordo bem... depois ele explica melhor).
- Eu: "Como é isto então?"
- SS: "Leva a mala consigo e vai deixar junto à escada do avião."
- Eu: "Eu não vou deixar a minha mala em escada nenhuma. Mas isso é assim, sem mais?"
- SS: "Se não deixar eu mando tirar a mala do avião?"
- Eu: "Você o quê?"
- SS: "Eu mando tirar a mala."
- Eu: "Mas quem é que se julga que é?"
- SS: "São regras. É a segurança. Imagine que vai no seu voo e apanha um poço de ar e leva com a bagagem na cabeça? Não ia querer."
- Eu: "Mas que tenho eu a ver com isso? Oiça... não vou discutir mais. Quero o seu nome e quero cópia dessas regras."
- SS: "Com certeza. Ó (fulana tal) tens aí papel?"
- Marco: Isto é uma vergonha. Ainda bem que já há EasyJet. Vergonha.
- SS: "Pegue este papel - é da mala." (deu-me um papel qualquer com o logo da TAP e identificação do voo e hora... regras nem vê-las). "Aqui está também o meu nome "SS" e um número que pode contactar. Vai ver que tenho razão."
- Eu: "Isto não fica assim."


De seguida, eu e o Marco fomos para o autocarro que nos iria levar para o avião. Um passageiro que tinha assistido a toda a cena, veio me dizer que a culpa daquilo era dele. Porque levava umas coisas a mais e teve que pagar excesso. E por causa disso reclamou com o homem perguntando se era só a dele que estava pesada. O tal SS. Eu como vinha logo atrás o homem quis mostrar serviço.


Chegados ao avião, fiquei eu e o tal passageiro juntos à escada do avião à espera que viesse alguém. Disse ao Marco para subir já que não ia deixar ali a minha bagagem sozinha... como aquilo anda ainda se esqueciam dela na pista! Entretanto, chega o funcionário, julgo eu da Groundforce, que perguntou se havia algum problema. Expliquei-lhe o que se tinha passado, que um colega dele tinha armado confusão na porta de embarque por causa do peso da minha mala e que, acima de tudo, eu não queria mandar a mala para o porão. O homem, muito amavelmente diga-se, afirmou logo que, por ele não havia problema. Era só a chefe de bordo autorizar. Pelo que, lá fomos falar com a chefe de bordo.


Já na porta do avião, vem uma senhora a perguntar o que se passava. Contei a história novamente, check-in, porta de embarque, SS, peso da mala, etc. Ela disse-me prontamente que não havia qualquer problema com peso. Só se a mala não coubesse na bagageira é que teria que ir para o porão. Era o único impedimento.


Entrei no avião, dirigi-me ao meu assento com a mala, e coloquei-a na bagageira sem qualquer problema. Ah... e não apanhamos nenhum poço de ar e, apesar de o avião ter abanado um bocado na aterragem, a mala não caiu na cabeça de algum passageiro!


Haja paciência. Muita...

9 comentários:

Marco Silva disse...

Foi uma enorme prepotência da parte daquele gajo!

O texto aqui exposto não espelha o ar arrogante com que ele nos tratou.

É uma pena que uma companhia aérea continue a tratar os passageiros da sua linha mais lucrativa como carga ou como animais.

Mas, tal como disse ao palhaço do "SS", a EasyJet vai dar cabo deles. E, quando estiverem na Praça do Comércio a se manifestarem pela manutenção dos seus postos trabalho na companhia à beira da falência, farei questão de passar lá e bater palmas!!!

Viagem todos na EasyJet sempre que puderem e mandem a TAP e todos os seus SS à m***...

Unhanegra disse...

Da próxima vez divides o conteúdo do shampoo por várias embalagens com menos 100 ml.

Quanto ao segundo caso, eu teria rido imenso com a conversa desse "profissional". Acreditem que as minhas gargalhadas sao ofensivas...

Cláudia disse...

É uma hitória e tanto..Também costumo viajar na TAP algo frequentemente e também já tive dissabores.. Parece que as regras não são iguais para todos..

Ken Silva disse...

Bem isso é mesmo de doidos, eu que vim há 2 anos com uma mala com cerca de 14 kg larga desde Paris até Lisboa (por nao ter feito o check-in e ir directo ao controlo) não tive problema, passei o controlo, fui ao balcão de embarque, entrei no aviao, coloquei na bagageira (lá teve espaço) e lá segui viajem, havia mesmo de ser esse S.S mandar-me deixar a mala na escada do avião.

P.S: essas regras dos 5kg nas mãos acho q já ouvi nas agências de viagem, nunca nos aeroportos

il_messajero disse...

bem, foi uma história e pêras!costumo viajar com bagagem de mão pesada e nunca tive problema...

C4tO disse...

Sobre os 250ml
A lei é clara, embalagens de 100mml, refere o tamanho do recipiente e não o volume do conteúdo actual.
Com normas de segurança não há volta a dar.

Sobre a mala de mão:
Tens razão, raramente as pesam e depois cada um inventa o que quiser.Eu passo muitas vezes com 10kg ou mais.
Reclamar, tirar nomes, chamar hierarquia, invoca estatuto de pax frequente, é o que resulta

JÁ AGORA: apresentaram reclamação pelo trato agressivo? Se não, porque perdem tempo a meter isto em blogs quando o podiam fazre no livro de reclamações

Luis Miguel disse...

Zé, eu estive a ler as regras do INAC acerca das restrições dos líquidos a bordo. Em suma anotei isto:

"Os passageiros não estão autorizados a transportar líquidos na sua bagagem de cabina, salvo os contidos em recipientes individuais de capacidade não superior a 100 mililitros ou equivalente (100g / 3 Oz), acondicionados num saco de plástico fechado, transparente e que possa ser aberto e fechado de novo, de capacidade não superior a 1 litro (por passageiro)."

Significa que nenhum passageiro pode transportar líquidos. Ponto. É esse o objectivo.

A excepção prender-se-á quando esses mesmos líquidos apresentem-se numa embalagem cuja capacidade não exceda 100ml (num total de 1 litro por passageiro).

O objectivo desta norma é a segurança do avião atendendo às ameaças dos explosivos líquidos. Optando então por proibir e/ou limitar o seu transporte nas bagageiras do avião.

Mas, como qualquer lei, a mesma tem de ser interpretada à luz dos objectivos do legislador, bem como da sua utilidade prática.

Não faz absolutamente sentido nenhum que eu possa levar 1 litro de líquidos em embalagens inferiores a 100ml e não possa levar 0,5 ml (por ex) numa embalagem de 200ml. É tudo por uma questão lógica.

É evidente que a limitação a 100 ml tem a razão de facilitar a vida ao segurança que, no fundo, sabe que o máximo que cada passageiro pode levar são 10 embalagens de 100ml - já que proceder à medição de líquidos num posto de controle é quase impossível.

Pelo que, da mesma forma, há que aplicar o "bom senso". No meu caso, eu só levava aquela embalagem (de 150 ou 200 ml creio), que já estava quase vazia. Verifica-se pelo peso facilmente. Nesta situação é um absurdo legislativo impedir-me de levar a embalagem quando outros passageiros passaram com muitos mais ml de líquidos que eu.

Mas enfim... cada um sabe de si.

C4tO disse...

Sem te tira razão na quesão do bom senso: As medidas de segurança têm de ser iguais para todos, não por justiça mas porque se abres um padrão os terroristas vão justamente por aí.

Luis Miguel disse...

Evidente. Nem sequer ponho isso em questão. Mas a noção de igualdade significa "tratar igual o que é igual e tratar diferente o que é diferente".

Neste caso, o perigoso não é a embalagem mas sim o seu conteúdo. E, em termos exclusivos de líquidos, eu levava muito menos (apesar de uma embalagem maior) que muitos dos meus colegas.

E isso é que perturba eles não serem capazes de distinguir isto. Pá, não me sinto seguro com pessoal que tem ordens para não pensar...