terça-feira, novembro 06, 2007

O Caso da Senhora Obrigada a Trabalhar

(Foto: ARMÉNIO BELO - DN)

Uns dizem que é revoltante. Outros que é injusta e desumana. Outros dizem que é uma situação inadmissível e nem querem acreditar. Quem mandou aplicar diz apenas que a lei foi cumprida.

Este caso já se arrasta há algum tempo mas no início desta semana foi retratado em quase todos os orgãos de comunicação social, e tal e qual a senhora, também sinto-me obrigado a divulgar aqui. Uma funcionária pública, que estava de baixa há três anos, regressou ontem ao trabalho por ordem da Caixa Geral de Aposentações (CGA).

O problema é que sofre de uma lombalgia e uma cervicalgia degenerativas que a impedem de fazer... bem, praticamente tudo. Depois de uma operação mal sucedida a uma hérnia discal, em 1998, Ana Maria, de 43 anos, não consegue hoje escrever, nem virar uma página de um livro ou jornal, abrir uma porta, pegar numa pasta, andar mais de 20 metros sem ajuda ou ir à casa de banho sozinha.

Em Fevereiro de 2006, Ana Maria foi a uma junta médica da ADSE, que a terá obviamente considerado incapacitada para o trabalho. Mas entretanto, uma outra Junta Médica na Caixa Geral de Aposentações de Viana do Castelo, concluiu que a senhora ainda podia trabalhar, pelo que informou a Junta de Freguesia que ela estava apta para o serviço, ordenando o seu regresso.

Perante a perplexidade das pessoas sãs deste país, Ana Maria regressou mesmo ao serviço, equipada com um colar cervical - que é obrigada a usar dia e noite -, uma braçadeira no braço direito e uma cinta lombar. Escolheu uma cadeira dura, de madeira, e bem encostada à parede, onde se sentou e onde irá cumprir o horário laboral "bem quietinha", dado que mal se consegue mexer, até que alguém com juízo ponha fim a esta brincadeira de mau gosto.

Entretanto a Caixa Geral de Aposentações, que quer manter Ana Maria na Junta, defende-se escudando-se na lei. Francamente, já revi e voltei a rever, e não encontro parágrafo que obrigue a alguém a trabalhos forçados. E então a produtividade? Já não conta? Enfim... eles é que sabem! Mas já agora, já que ela é uma trabalhadora assim tão valiosa, então no mínimo, a CGA terá que disponibilizar uma cama, uma cozinha e uma ama para tomar conta dela, e sem esquecer o neurocirurgião, o psiquiatra, o fisioterapeuta, e o seu médico de família, que a têm acompanhado nos últimos anos.

Isto faz-me lembrar uma célebre frase de Henrik Ibsen - "A minoria pode ter razão mas a maioria está sempre errada". Pois, deve ser isso mesmo...

2 comentários:

Rui Caetano disse...

Uma vergonha.

Anónimo disse...

É de facto chocante ver o estado de decadência do actual país que temos.
Sim, porque decadência não é só a crise de valores da sociedade, é a própria crise do Estado de Direito que, cada vez mais, com a implementação deste tipo de medidas, se destitui do seu papel de Estado Social.
Exigem-nos contribuições para a Segurança Social, mas garantem-nos um sistema de saúde que demora um ano ou mais a marcar uma cirurgia, exigem-se impostos cada vez mais elevados, mas não nos garantem o direito a uma reforma condigna para daqui a, vamos dizer 10 anos?!, pedem-nos mais e mais produtividade, quando o poder de compra de cada um é cada vez menor...etc., etc....
Será o fado português? ou é mesmo incompetência de quem governa?
Segundo dizem depois de um tempestade vem sempre uma bonança, penso que em Portugal, aguardamos todos ansiosamente por tal período que tarda e insiste em não aparecer...