quinta-feira, agosto 31, 2006

Suicídio ou Homicídio?


Em 1994, o Presidente da Academia Americana de Ciências Forenses (AAFS), o Dr. Don Harper Mills, relatou um caso de uma morte bizarra, que ainda hoje é alvo de variadíssimas opiniões doutrinárias.

A 23 de Março de 1994, o médico legista examinou o corpo de Ronald Opus, concluindo que a causa da morte fora um tiro de espingarda na cabeça. No entanto, o Ronald havia saltado do alto de um prédio de 10 andares, pretendendo com tal acto, acabar com a sua vida. Uma nota de suicídio confirmava essa sua intenção.

Então como é que Ronald levou um tiro na cabeça? Quando saltou do parapeito, e passava pelo nono andar em direcção ao chão, Ronald foi atingido por um tiro de espingarda na cabeça, que o matou instantaneamente.

O que Ronald não sabia era que uma rede de segurança havia sido instalada um pouco abaixo da altura do oitavo andar, a fim de proteger os operários que recuperavam parte da fachada do edifício. Assim, Ronald Opus não teria sido capaz de consumar seu suicídio como pretendia.

Normalmente, quando uma pessoa desencadeia um acto que levará voluntariamente à sua própria morte, e consegue ser bem sucedido, a causa de morte é descrita como suicídio, mesmo que o mecanismo final da morte não tenha sido o planeado. Mas o facto de Opus ter sido morto em plena queda, em plena tentativa de suicídio que, como se sabe, não teria resultado em virtude da existência da rede de segurança, transformou o caso em homicídio. Isto porque alguém disparou a arma, cuja bala veio acertar no infeliz Opus.

O quarto do nono andar, de onde partiu o tiro fatal, era ocupado por um casal de idosos. Segundo foi apurado, o casal discutia aos altos gritos, e o marido ameaçava a esposa com uma espingarda. O homem estava tão furioso que, ao apertar o gatilho, o tiro errou completamente sua esposa, atravessando a janela e atingindo o corpo que caía.

Quando uma pessoa tenta matar a vítima A mas acidentalmente mata a vítima B, esse alguém é culpado pelo homicídio de B - mesmo que na sua forma negligente.

Quando tomaram consciência do sucedido, tanto o marido quanto a sua esposa foram enfáticos ao afirmar que a espingarda estava descarregada (ou pelo menos costumava estar). O velho disse que tinha por hábito ameaçar sua esposa com a espingarda descarregada durante as suas discussões. No entanto, jamais tivera a intenção de a matar.

Portanto, o homicídio do Sr. Opus parecia ter sido um lamentável acidente. O casal de idosos afirmavam que julgavam que a arma estava descarregada, e desconheciam quem a havia carregado. Havia então de descobrir quem o havia feito. Durante a investigação, foi possível descobrir uma testemunha que afirmou que o filho do casal de idosos lhe havia confessado que tinha carregado a arma, um mês antes do trágico acontecimento.

Descobriu-se também que a senhora havia cortado a mesada ao filho e este, sabendo das brigas constantes dos seus pais, carregara a espingarda na esperança que o seu pai matasse a mãe. Entra uma nova peça nesta engranagem - o filho do casal - igualmente responsável pela morte de Ronald.

Agora vem a reviravolta interessante. O filho do casal, responsável por toda esta situação era, na verdade, o próprio Ronald Opus. Pelas razões descritas na carta de suicídio, onde envocava às constantes discussões dos pais e o seu mau relacionamente com ambos, a 23 de Março este atirou-se do décimo andar do prédio onde morava, vindo a ser morto por um tiro de espingarda quando passava pela janela do nono andar.

No final, concluiu-se que Ronald Opus havia efectivamente "assassinado" a si próprio.

E agora, qual o vosso veridicto: suicídio ou homicídio?

2 comentários:

LM disse...

Esta situação é muita complicada :)

Tem piada que o Magnolia tinha uma cena precisamente assim, na altura que o vi sempre pensei que fosse muita imaginação.

Nem em sonhos loucos imaginava que isto fosse verdade!

Anónimo disse...

Quem brinca com arma assume o risco, e no caso o pai assumiria o risco pela morte que agora passava a ser não mais homicídio culposo mas com uma agravante de erro de tipo. Queiria matar A e acabou matando B porém a pena é como se A ele tivesse matado...