quinta-feira, junho 08, 2006

O "Magriço" de Portugal


Todos nós quando ouvimos falar dos "Magriços", lembramo-nos da célebre selecção portuguesa de Eusébio, que em 1966, foi a Inglaterra conquistar um brilhante terceiro lugar no campeonato do mundo. Mas de onde vem esse nome? Quem foram os "Magriços"? Ou melhor... quem foi o "Magriço"?

Luís de Camões foi o grande responsável pela divulgação do nome e das proezas do Magriço, ao incluir em Os Lusíadas, (nota: Canto I, capítulo 12, verso sexto), o relato dos feitos dos "doze de Inglaterra".

Consta que, nos finais do século XIV doze damas inglesas, tendo sido injuriadas por palavras proferidas por outros tantos cavaleiros também ingleses, apresentaram queixas ao Duque de Lencaster, pedindo-lhe que, pelas armas, assumisse a defesa da honra ofendida.

O Duque, não querendo afrontar directamente esses cavaleiros, para não agravar um problema interno, logo se lembra de doze cavaleiros portugueses que conhecera, ao lado do rei de Portugal, seu genro, aqui combatera as tropas de Castela.

Cartas são enviadas pelas damas e pelo Duque a cada um dos cavaleiros portugueses e a D. João I, que autoriza a expedição a Inglaterra, onde, em torneio, os portugueses se bateriam contra os ingleses.

É aparelhado um navio que parte da cidade do Porto, levando 11 cavaleiros armados. Esperem lá. 11? mas não eram 12? Efectivamente eram 12 os cavaleiros. No entanto, um tal de Álvaro Gonçalves Coutinho, comunica aos seus colegas de armas que prefere fazer a viagem por via terrestre, a fim de saciar a curiosidade que tem de conhecer novas terras e novas gentes. Por motivos ainda não muito bem conhecidos, este cavaleiro, era conhecido entre as suas gentes como o... "magriço".

Entretanto, chegados a Inglaterra, os onze portugueses preparam-se para o torneio... e do magriço nem novas nem mandados, para grande desgosto da dama que ele iria defender. No preciso momento que iam iniciar o combate, eis que, com grande reboliço, o Magriço entra em campo, pondo-se ao lado dos seus companheiros. O confronto é breve e, com alguns ingleses mortos e outros postos fora do campo, aos portugueses resta celebrar a vitória e receber as homenagens das damas desagravadas, antes de regressarem a Portugal.

Todos... todos não. O nosso Magriço, que, não resistindo à sua curiosidade e espírito aventureiro, por lá se deixa ficar mais uns tempos, ao serviço do Conde de Flandres.

Já anteriormente a Camões, são feitas referências a este episódio no Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, de Jorge Ferreira de Vasconçelos, editado em 1567.

O tema persistiu e, já depois da morte do autos de Os Lusíadas, Pedro de Mariz, nos Diálogos de Vária História, de 1599, inclui pormenorizada descrição do torneio de Londres.

Quanto ao Magriço e seus feitos, esses existiram mesmo e são atestados por documento existente na Torre d Tombo, uma carta datada de 26 de Dezembro de 1411, em que D. João, duque da Borgonha e conde da Flandres, reconhece os grandes serviços a si prestados por Álvaro Gonçalves Coutinho e, em agradecimento, concede privilégios aos portugueses na Flandres.

A nobilíssima família dos Coutinhos é uma das mais antigas e ilustres de Portugal que atingiu grande brilho pelas suas valorosas acções e alianças que teve com membros da Casa Real.

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