Belmiro de Azevedo voltou ontem a surpreender o mundo dos negócios. De forma absolutamente inesperada, com os mercados de Lisboa e Nova Iorque já encerrados, a Sonae SGPS anunciou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade do capital da Portugal Telecom (PT), operação que envolverá um investimento de 10.700 milhões de euros (11.200 milhões com dívida).
Segundo apurou o PÚBLICO, a Sonae teve contactos prévios formais com o Governo de José Sócrates, que não deverá opôr-se ao negócio. A possibilidade de surgir uma contra-OPA não está excluída e poderá vir a dificultar o caminho ao empresário nortenho.
Para tentar convencer os accionistas da PT a alienarem as acções detidas, o grupo da Maia (proprietário do PÚBLICO) oferece 9,50 euros por acção, o que representa um prémio de 17 por cento face à cotação de fecho (8,18 euros) na sessão de ontem da bolsa de valores de Lisboa e de 22 por cento após a distribuição de dividendos do operador histórico. É com estes argumentos financeiros que Belmiro de Azevedo avança para um grupo que tem acusado de impedir uma saudável concorrência no sector das telecomunicações e que, nos últimos meses, vinha sendo dado como exposto a uma oferta de aquisição de um grande "player" europeu.
Essa possibilidade não está, de momento, excluída e, nos próximos dias, será incontornável perceber que posição irá assumir neste processo a espanhola Telefónica, que detém quase dez por cento do capital da PT e é parceira do grupo português no negócio dos telemóveis no Brasil – através da Vivo.
O grupo Sonae, no anúncio preliminar de lançamento da oferta, condiciona a operação à aquisição de, pelo menos, 50,01 por cento do capital da Portugal Telecom e à desblindagem dos estatutos da empresa, que neste momento, limitam os direitos de voto a dez por cento. Belmiro exige, também, o fim dos poderes especiais do Estado (realizados através da "golden-share") ou que este aceite, previamente, o plano de reestruturação que tem para a companhia.
Se vier a ficar com o operador histórico de telecomunicações, a PT, já dominada pelo grupo da Maia, terá, depois, que lançar uma OPA sobre o capital disperso da PT Multimédia, subsidiária do grupo PT, de forma a dar oportunidade aos accionistas para saírem da empresa, uma vez que se verificou a alteração da titularidade da casa-mãe.
Vender rede é objectivo
Naquele que será o maior negócio de todos os tempos em Portugal – o investimento representa duas vezes o custo do aeroporto da Ota mais o do TGV e equivale a uma vez e meia o défice público previsto no Orçamento do Estado para o ano em curso – o grupo Sonae, apurou o PÚBLICO, avança sozinho para esta aquisição, tendo como intermediário o Banco Santander de Negócios. O seu parceiro na Sonaecom, a France Telecom, não está envolvida na operação.
Fonte ligada à montagem da operação afirmou ao PÚBLICO que este foi um trabalho “muito complexo”, mas que “afasta a ameaça de a PT passar para as mãos de capital estrangeiro”.
Em caso de a OPA vingar, a disposição do grupo da Maia é a de fazer com que a PT absorva a Sonaecom, a holding que agrupa os negócios das telecomunicações. Outra disposição que está na mente dos responsáveis da Sonae é vender uma das redes da companhia, não estando ainda fixado se será a de cabo ou a de cobre. Esta venda vai em linha com aquilo que o grupo de Belmiro de Azevedo sempre defendeu.
Hoje, em conferência de imprensa, a administração da Sonae vai explicar os motivos para lançar esta OPA e deverá dar informações mais precisas sobre como foi montado o financiamento da operação, nomeadamente se exigirá a realização de aumentos de capital.
Deverá, também, esclarecer que planos tem para a TMN, uma vez que a inclusão da Sonaecom na PT vai determinar a sobreposição na mesma empresa de duas das três actuais operadoras de telefone móvel. A venda da TMN ou da Optimus poderá ser a saída e a forma de contornar uma eventual oposição da Autoridade da Concorrência.
Para as próximas semanas, há várias incógnitas para tentar desvendar. Por um lado, qual será a posição do conselho de administração da PT e que grau de abertura existirá por parte dos grandes accionistas da companhia, entre os quais o Banco Espírito Santo, no sentido de aceitar a oferta da Sonae.
fonte: PUBLICO
Fantástico! O mercado económico português já precisava há muito de um abanão desta magnitude! É uma forma do governo português descalçar de forma elegante a bota da "golden" da PT, bem como arrecadar uma quantia preciosa para os cofres nacionais, pela parte que lhe cabe. Aguardo ansiosamente por novos desenvolvimentos.
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