domingo, maio 12, 2013

A situação do Diário de Notícias da Madeira




Quando uma empresa, seja em que área for, é obrigada pelas contingências do mercado a despedir funcionários, nunca o cenário é bonito. Por muito compreensivos que até possam os trabalhadores ser, a verdade é que as relações nunca serão as mesmas. Afinal de contas é o seu posto de trabalho que está em jogo. É a sua capacidade de pagar os seus compromissos, de assegurar o seu futuro e da sua família que está em jogo. É ainda a eterna questão sobre as suas próprias capacidades para o trabalho, aquele velho julgamento do porquê eu e não o outro.

Não sou daqueles que partilham uma visão romântica de uma empresa, como se duma família se tratasse. Uma empresa, acima de tudo, é feita para dar rendimentos a quem a constituiu. Senão mais valia estar quieto e guardar o dinheiro que se tenha. O facto de dar emprego a terceiras pessoas e ajudar, directa ou indirectamente, a economia em que se insere, embora relevante, não deixa de ser uma consequência colateral da aposta individual do sócio. Naturalmente que, o facto de colocar pessoas a trabalhar juntas na grande parte da semana, promove uma maior aproximação social e, lá está, aquele sentimento de partilha das pessoas e, muitas vezes, amizade que indiscutivelmente tornam muito mais agradável o trabalho e o local de trabalho. Porém, na maior parte das vezes, há sempre aquele momento em que as regras do mercado se impõem. Onde os trabalhadores percebem que, acima de tudo, são um activo da empresa e que só "valem" enquanto o seu trabalho render, enquanto a relação custo-receita for favorável aos seus patrões.

Isto é bem de ver numa condição de mercado regular, onde a regeneração das empresas é uma realidade incontornável. Porém, como todos nós sabemos, há mercados e há mercados. E há muito que se sabe que, por exemplo, o mercado da comunicação social em papel é na Madeira muito 'sui generis' e onde as regras da sã concorrência desapareceram. O que se assistiu esta semana na Empresa Diário de Notícias da Madeira, que se viu obrigada a dispensar 35 funcionários, entre os quais jornalistas, extravassa as condições normais e aceitaveis no mercado. 

É verdade que o DN-Madeira, ao longo da sua vida mais recente, cometeu erros de gestão. Possivelmente terá até gastado onde não devia e sem o resultado esperado. Também é verdade que, com a evolução tecnológica e a divulgação da internet, as condições da imprensa escrita são substancialmente diferentes do que eram há 10 ou 20 anos atrás. Hoje em dia é possível produzir e lançar edições de jornais quase sem se sair de casa. Neste sentido, compreende-se que, ano após ano, seja necessário rever a posição da empresa no mercado, e o seu tamanho face ao binómio custo-receita. Mas isto tudo acaba por ser secundário quando sabemos que, num mercado quase bipartido, há uma entidade que não joga pelas mesmas regras. 

Mesmo ignorando questões de "somenos" como a qualidade, visão editorial ou mesmo implementação no mercado, o facto de existir um concorrente com um financiamento garantido (através do orçamento da Região) independentemente dos seus resultados líquidos, bem como ter garantido para si cerca de 98% da publicidade institucional (e é muita), só por estas duas razões compreende-se que esta realidade estrangula qualquer outro concorrente no mercado. Se juntarmos a uma distribuição gratuita do concorrente por toda a Região, compreendemos que, de facto, não existe concorrência e que, como é o caso do Diário de Notícias da Madeira, este irá ser estrangulado até os seus sócios decidirem que não dá mais. E aí fechará.

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