Esta é a história de uma menina paquistanesa de 14 anos, chamada Malala Yousafzai, cujo único "crime" foi querer ser médica.
A noite de 14 de Fevereiro o pai pegava no rádio uma última vez para ter a certeza que nada tinha mudado, num gesto meio ingénuo, quase ridículo. Na manhã seguinte terminava o prazo dado pelos taliban: mais nenhuma menina poderia ir à escola. Malala, que já era conhecida pela sua luta pelo direito das mulheres à educação, foi. Apesar do medo.
“No caminho para a escola eles podem matar-nos, atirar-nos com ácido para a cara, fazer o que entenderem”, dizia então ao New York Times, que a acompanhava para o documentário Class Dismissed. “Mas eles não podem parar-me, eu vou ter a minha educação.” Tinha 11 anos.
No
diário que escrevia para o site da BBC Urdu ja nessa altura (que
assinava com o nome Gul Makai), descrevia a vida na sua cidade, Mingora,
controlada pelos taliban. Insurgia-se sobretudo pelo direito das
mulheres à educação. Via outros activistas mortos e exibidos pelas ruas e
praças de Mingora, e sabia que um dia poderia chegar a sua vez.
A jovem activista paquistanesa de 14 anos era já um símbolo
da resistência contra os taliban do Paquistão – venceu o National Peace
Award for Youth, no Paquistão, e foi nomeada para o International
Children’s Peace Prize, da Dutch Kids Rights Foundation. Mas nos últimos
dias o país esteve como nunca de olhos postos nela.
Quando
na terça-feira passada regressava da escola, apareceram dois homens armados que
a atingiram na cabeça e num ombro. Gravemente ferida, está em estado
crítico num hospital militar em Rawalpindi, a recuperar de uma operação à
cabeça. Os próximos dias serão cruciais, não se sabe se sobreviverá ou
não.
Os taliban
já garantiram que se sobreviver voltarão a atacar. “Apesar de ela ser
nova e uma menina e de os taliban não acreditarem em ataques a mulheres,
qualquer um que faça campanha contra o islão e a sharia deve ser morto, segundo a sharia”,
explicava há dias o porta-voz do grupo no comunicado em que o ataque
foi reivindicado. “Não é apenas permitido matar uma pessoa assim, mas
obrigatório.”
Não consigo pensar noutra coisa pior que o extremismo. Não se pode negociar com estas pessoas, não se consegue fazer entender, não se consegue falar. Só entendem uma resposta na mesma moeda. E, enquanto o ser humano se portar como um animal irracional sob a capa de um pretexto religioso, a humanidade será sempre menos humana.
Sem comentários:
Enviar um comentário