quarta-feira, novembro 30, 2011

A crise: uma vingança patriótica



Diz-se que a vingança é um prato servido frio. Uma espécie de gaspacho (para o povo) ou de vichyssoise (para as elites que frequentam vernissages).

Depois de a nossa economia sólida como betão e próspera como um fontanário de platina jorrando diamantes ter sido cruelmente desancada por mercados financeiros desleais e movidos por agendas sinistras, os portugueses tiveram de suportar um coro de impropérios de todo o mundo, mas sobretudo dos países da zona euro.

Acusaram-nos de sermos perdulários, de não gostarmos de trabalhar, de vivermos à grande e à francesa (mas sobretudo “à alemã”) com dinheiro alheio. De sermos maus gestores, de sermos analfabetos económicos, de não conseguirmos ser produtivos. Tudo mentiras torpes.

Mas Deus (que é português e se chama Alfredo) escreve direito por linhas tortas e, agora que a crise alastra aos países da ilustre Europa Central, está na altura de pagarmos na mesma moeda. Porque somos justos, não nos limitaremos a vilipendiar apenas estes novos aflitos, mas todos os países da moeda única. Até porque tocará a todos, mais tarde ou mais cedo, e, assim, ninguém se fica a rir.

Começamos aqui ao lado.


 Espanha:

Contagem decrescente para que a economia mais forte da Península Ibérica passe a ser Andorra. E é bem feito para não se rirem do mal alheio.


França:

Tanta portuguesa com 1,58m em Paris e o senhor presidente tinha de escolher uma top model. Depois, não admira que um terço da dívida nacional se deva a despesas de representação com sapatos de tacão alto e fatos concebidos pela NASA para camuflar a diferença de alturas.


Bélgica:

Continuem o excelente trabalho de provar que uma democracia se pode aguentar durante anos com um governo de gestão. Por este andar, nem terão a quem apontar o dedo quando as vossas finanças se desmoronarem.




Luxemburgo:

Com as coisas como estão, não vos serve um simples duque? Tem de ser “grão”? A opulência é um mal tremendo.



Holanda:

Ainda bem que a prostituição é legal. O pior será quando não restar ninguém no país para ser cliente.


Irlanda:

A fortuna que é precisa para tirar os volantes do lado esquerdo e passá-los para o lado direito. Tudo para poderem continuar a conduzir do lado errado da estrada.


Áustria:

Fica a ideia: os chineses adorariam comprar o privilégio de serem a pátria de Mozart, Strauss e Schubert. Restar-vos-ia a honra de terem sido berço de outras individualidades. Como aquele senhor do bigodinho e da braçadeira. Que orgulho, hã?


Itália:

Sim, é verdade que vos devemos o Renascimento e a invenção do apalpão, mas aguentar o Berlusconi durante quase dez anos é mesmo de quem merece sofrer.



Malta:

Finalmente, legalizaram o divórcio. Assim, os casais desavindos poderão divertir-se a discutir quem ficará com o maior quinhão das dívidas.



Eslovénia:

Orgulham-se tanto da montanha com três cumes que é o vosso símbolo nacional. Vai ser triste quando tiverem de explodir um dos cumes para instalar um anúncio da Coca-Cola como fonte de receita extraordinária.


Eslováquia:

Vocês estão no euro? Aliás… estão na União Europeia? Quem vos deixou entrar?


Finlândia:

Não nos queriam emprestar dinheiro, não era? Então boa sorte quando acabar a verba para eletrificar a vedação contra os alces carnívoros.


Estónia:

Também vocês se meteram no euro? Pensei que a ameaça constante de anexação pela Rússia fosse problema suficiente, mas parece que estava enganado. Continuem.



Grécia:

O que foi? Não olhem para mim assim que nem sequer disse nada. (Nem é preciso.)



Chipre:

Parabéns por serem o único meio-país da zona euro a ser afetado pela crise. Aposto que já começam a olhar para a metade turca da ilha com melhores olhos, hã?



Alemanha:

Há quem vos leve a mal a postura de “somos nós que mandamos nisto tudo”. Eu não. Acho que devemos ficar-vos muito gratos por pagarem as dívidas de toda a gente. Sobretudo porque não restará ninguém para pagar as vossas.


Ah pois é!!

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