quarta-feira, junho 23, 2010

O aluno ou o monstro?

 


 
No mês passado tive a oportunidade de ministrar umas pequenas aulas a uma turma de oitavo ano numa escola no Funchal, no âmbito de um projecto de empreendedorismo jovem. Logo à partida avisaram-me que se tratava de uma "turma especial". Pá, são miúdos, que raio pode ser senão feromonas e excitação próprias da idade? - pensei eu. Afinal, tratavam-se de jovens alunos entre os 13 e os 16 anos. Mas, muito sinceramente, aquilo com que eu me deparei, deixou-me sobretudo muito preocupado.


Quando se ouve da boca de uma adolescente de 15 anos a afirmação que "gostava de ser enfermeira, mas isso nunca vai acontecer porque eu não vou chegar lá (...) portanto vou-me ficando por aqui...", o que pensar? Quando se verifica que não há qualquer respeito pelo professor, onde se usa o telemóvel a torto e a direito, atira-se livros e canetas de um lado da sala para outro, levantam-se sem pedir licença, falam quando os outros estão a falar, e quando se verifica da parte do professor um tal desleixo que aquele já nem se importa? É uma realidade assustadora...


Embora eu não possa tomar este universo particular como a generalidade, a verdade é que variadas vezes oiço queixas de professores amigos, que confrontam-se com alunos sem hábitos de trabalho e sem espírito de sacrifício, onde é constantemente necessário recordar-lhes que numa aula não podem colocar os pés na cadeira da frente, nem usar bonés, que devem evitar sair durante a aula, que é costume colocar o dedo no ar quando querem falar, e que os telemóveis estão totalmente proibidos.


Será este o perfil do aluno do ensino básico, do aluno do ensino secundário e agora, do aluno do ensino universitário? Um tal "monstro" criado por esta nova “cultura de facilitismo”, por aquela ideia romântica tão apregoada no iniciada na década de 90 que defende que a aprendizagem tem de ser um prazer e não um esforço? Será o produto visível de uma política de educação que passou a privilegiar a nota em vez do saber, que veio promover a passagem obrigatória e a desvalorização do conhecimento.


Não sei o que o futuro reserva, mas o presente é já dramático... pelo menos para aqueles dezanove miúdos.

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