quarta-feira, outubro 08, 2008

Magalhães ou um caldinho à portuguesa

 


Muito se tem falado do MAGALHÃES, anunciando com pompa e circunstância, no dia do seu lançamento como o "primeiro computador portátil português". A RTP referiu que era "um projecto português, produzido em Portugal"; a SIC fala de "um produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel" e que a "concepção é portuguesa e foi desenvolvida no âmbito do Plano Tecnológico".


Na realidade, só com muito boa vontade é que o que foi dito e escrito é verdadeiro. Na realidade o projecto não teve origem em Portugal, e já existe desde 2006, sendo responsabilidade da Intel, que lhe chamou de CLASSMATE PC. Trata-se de um laptop de baixo custo, inicialmente destinado a países do chamado 'terceiro mundo', mas que tem sido igualmente disponibilizado em vários sítios como o 'Amazon'.


As notícias foram cuidadosamente feitas de forma a dar ideia que o 'Magalhães' é algo de completamente novo e com origem em Portugal. Não é verdade. Na imprensa escrita, mais atento este o Portugal Diário: "Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior, tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto".


O CLASSMATE PC foi a resposta da INTEL à criação de Nicholas Negroponte, o criador do MIT Media Lab que produziu o conhecido "portátil de 100 dólares". A Intel foi um dos parceiros até ver o seu concorrente AND ser escolhido como fornecedor. Saiu do consórcio e criou o Classmate, que está a tentar impor aos países em desenvolvimento.


O Governo Português acaba de escolher a INTEL, sem concurso público, de detrimento do projecto de Negroponte. A "JP Sá Couto", que já tem a seu cargo a produção dos "Tsumanis", tem agora, à pala do MAGALHÃES, e sem qualquer concurso público, todo o mercado nacional do primeiro ciclo - facto que tem passado ao lado de quase toda a imprensa nacional.


Como se já não bastasse, o PUBLICO publicou ontem uma notícia que revela que a empresa JP SÁ COUTO, principal e único produtora do MAGALHÃES em Portugal, é arguida num processo de fraude e fuga ao IVA, onde o Estado terá saído lesado em mais de cinco milhões de euros.


O MAGALHÃES é tão português como os automóveis produzidos na AUTOEUROPA! Para além de dar uma grande vitória à INTEL sobre a rival OLPC (One Laptop Per Child - Um Computador Por Criança). É bem claro que estamos perante mais um caldinho do PS para satisfazer os seus lobbies e interesses! Pelo que se impõe a pergunta: ninguém faz nada?

1 comentário:

Luis Miguel disse...

Este MAGALHÃES promete... broncas! Depois do caso da JP SÁ COUTO, agora é o PSD a acusar o Ministério da Educação de pressionar as autarquias para pagarem os custos de ligação à internet, dentro do plano de distribuição do computador portátil “Magalhães”.

A questão foi levantada ontem na AR por Agostinho Branquinho, vice-presidente da bancada social-democrata, e é notícia hoje no jornal "O PUBLICO".