As primeiras experiências de televisão em Portugal remontam a 1949, mas as primeiras experimentações sérias, já com a empresa RTP constituída, têm lugar na Feira Popular de Lisboa, em 1956. Um ano depois, a 7 de Março de 1957, tinham início as emissões regulares. Já lá vai meio século.
Na ressaca da II Grande Guerra Mundial, onde Portugal manteve uma ambígua neutralidade, a Europa enceta um período de reconstrução, impulsionado pelo famoso Plano Marshall americano. Para além do início daquele que viria a ser o mais longo período sem qualquer guerra em espaço europeu de que havia memória histórica, a generalidade dos países abrangidos pelo plano arrancaram para uma espiral de desenvolvimento quase sem precedentes. E Portugal? Fecha-se aos ventos de mudança que vão soprando um pouco por toda a Europa, sobe de tom a repressão da polícia política, reforça-se a filosofia do pobrezinhos mas felizes. A década de 50 do século passado marca também o início da massificação de um meio de comunicação social que, efectivamente, viria a mudar o mundo.
Como sempre avesso à novidade, António de Oliveira Salazar encara a televisão com desconfiança. O cosmopolitismo que lhe está subjacente pode, no entender do então presidente do Conselho, trazer ideias novas para um povo até então submisso e ordeiro, no pior sentido de ambas as palavras. Mas o delfim de Salazar, Marcelo Caetano, rapidamente entendeu a importância que tal instrumento poderia ter, admitindo que poderia tratar-se de um fenómeno de capital importância para disseminar alguns dos princípios tão caros ao Estado Novo. Vencidas as reticências iniciais de Salazar, em Dezembro de 1955 é constituída a Radiotelevisão Portuguesa SARL, com capital tripartido entre Estado e emissoras de radiodifusão privadas e particulares.
Mas o primeiro momento histórico tem lugar em 1956, com as emissões experimentais a arrancarem no recinto da Feira Popular de Lisboa, então situada na Palhavã. As primeiras palavras de apresentação cabem a Raul Feio, na altura locutor da Emissora Nacional, cabendo a Maria Armanda Falcão a honra de ficar para a história como a primeira locutora televisiva. Pouco tempo depois, viria a ser despedida por questões de personalidade, vindo a tornar-se conhecida no País como cronista, assinando com o pseudónimo de Vera Lagoa…
Como sempre acontece com tudo o que é novo, formou-se uma verdadeira romaria de pessoas à Feira Popular, onde coexistem sensações de deslumbramento perante tal tecnologia e de desolação perante a pobreza das emissões, mesmo descontando o evidente experimentalismo dos primeiros tempos.
As emissões regulares começam a 7 de Março de 1957, tendo como base um estúdio improvisado no Lumiar, que acabaria por durar quase que até aos dias de hoje. São tempos gloriosos dos directos, com todos os acidentes inerentes a tal actividade, da ascensão de várias vedetas, muitas das quais apenas se conhecia voz da rádio. Com uma rede de emissores que cobria, inicialmente, cerca de 65 por cento do território nacional, a televisão entra de rompante na vida dos portugueses e, aos poucos, vai-se impondo como meio de comunicação de referência, se bem que os censores do Estado Novo não deixassem os profissionais de então da RTP pôr o pé em ramo verde.
O ano de 1959 marca o desbravar de novos horizontes na televisão em Portugal. Em Outubro nascem os estúdios do Norte, situados, tal como agora, no Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, concretizando-se ainda a adesão à União Europeia de Radiodifusão, a popular Eurovisão, durante largos anos conotada com o famoso, e quase sempre trágico para Portugal, festival da canção. Só em meados dos anos 60 é que as emissões se estendem à totalidade do País, década que ainda assiste, a 25 de Dezembro de 1968, ao surgimento do segundo canal. A 6 de Agosto de 1972, é dado o pontapé de saída nas emissões da RTP Madeira, modelo de descentralização televisiva que apenas chegaria aos Açores a 10 de Agosto de 1975.
Pelo meio, ainda há o 25 de Abril de 1974, que tem na RTP uma das suas principais armas, e um dos primeiros objectivos dos militares, revolução que vai obrigar a mudanças consideráveis no estatuto na empresa. Em 1975, a RTP é completamente nacionalizada, nascendo a Radiotelevisão Portuguesa EP, através do Decreto Lei 674-D/75 de 2 de Dezembro.
A data de 7 de Março marca uma vez mais um era no seio da RTP. Foi neste dia de 1980 que começaram as emissões a cores. O primeiro passo para o mundo global dá-se a 10 de Junho de 1992 com o início das transmissões da RTP Internacional, para seis anos mais tarde, a 7 de Janeiro de 1998, assumir a liderança do espaço lusófono audiovisual com a entrada em funcionamento da RTP África. Claro que pelo meio de tudo isto há o advento das televisões privadas e de todas as transformações que isso acarretou. Mas isso são contas de outro rosário.
Sabia que?
- O primeiro filme transmitido pela RTP, a 13 de Março de 1957, foi «Fado, História de uma Cantadeira», protagonizado por Amália Rodrigues e Virgílio Teixeira
- O primeiro concurso televisivo surge a 5 de Abril de 1957 e chamava-se «Quem sabe, sabe». Era apresentado por Artur Agostinho.
- É também no primeiro ano de emissões que Maria de Lourdes Modesto dá início aos seus programas de culinária.
- A primeira peça de teatro é o vicentino «Monólogo do Vaqueiro», protagonizado por Rui de Carvalho.
- As históricas emissões do Natal dos Hospitais começam em Dezembro de 1958.
- Os diálogos com o espectador sobre poesia teatro e literatura protagonizados por João Villaret, as «Charlas Linguísticas», do cónego Manuel Machado, ou o «Museu do Cinema», de António Lopes Ribeiro, são alguns dos programas que nos primórdios da RTP mais pessoas prendem ao pequeno ecrã.
- A 6 de Dezembro de 1960 começava aquele que se tornou o programa de televisão de maior longevidade na história da televisão portuguesa: o TV Rural, do famoso engenheiro Sousa Veloso.
- O primeiro Festival da Canção teve lugar a 2 de Fevereiro de 1964 e foi ganho por António Calvário com o tema «Oração».
- 1969 é um ano histórico em termos de conteúdos. Marcelo Caetano começa com as suas famosas «Conversas em Família», enquanto que Raul Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz dão uma pancada no marasmo com o já mítico «Zip Zip». Todas as segundas à noite o País pára para verem algo de diferente. Lá por fora, a 20 de Julho é transmitida em directo a chegada de Neil Armstrong à Lua, mas o Telejornal português remete a notícia quase para um rodapé. O destaque nesse dia foi mais uma inauguração de Américo Tomás. «A smal step for men…»
- José Hermano Saraiva faz a sua estreia em 1971 com o programa «O tempo e a alma».
Fiquem então com uma pequena recordação dos 50 anos da RTP.
Na ressaca da II Grande Guerra Mundial, onde Portugal manteve uma ambígua neutralidade, a Europa enceta um período de reconstrução, impulsionado pelo famoso Plano Marshall americano. Para além do início daquele que viria a ser o mais longo período sem qualquer guerra em espaço europeu de que havia memória histórica, a generalidade dos países abrangidos pelo plano arrancaram para uma espiral de desenvolvimento quase sem precedentes. E Portugal? Fecha-se aos ventos de mudança que vão soprando um pouco por toda a Europa, sobe de tom a repressão da polícia política, reforça-se a filosofia do pobrezinhos mas felizes. A década de 50 do século passado marca também o início da massificação de um meio de comunicação social que, efectivamente, viria a mudar o mundo.
Como sempre avesso à novidade, António de Oliveira Salazar encara a televisão com desconfiança. O cosmopolitismo que lhe está subjacente pode, no entender do então presidente do Conselho, trazer ideias novas para um povo até então submisso e ordeiro, no pior sentido de ambas as palavras. Mas o delfim de Salazar, Marcelo Caetano, rapidamente entendeu a importância que tal instrumento poderia ter, admitindo que poderia tratar-se de um fenómeno de capital importância para disseminar alguns dos princípios tão caros ao Estado Novo. Vencidas as reticências iniciais de Salazar, em Dezembro de 1955 é constituída a Radiotelevisão Portuguesa SARL, com capital tripartido entre Estado e emissoras de radiodifusão privadas e particulares.
Mas o primeiro momento histórico tem lugar em 1956, com as emissões experimentais a arrancarem no recinto da Feira Popular de Lisboa, então situada na Palhavã. As primeiras palavras de apresentação cabem a Raul Feio, na altura locutor da Emissora Nacional, cabendo a Maria Armanda Falcão a honra de ficar para a história como a primeira locutora televisiva. Pouco tempo depois, viria a ser despedida por questões de personalidade, vindo a tornar-se conhecida no País como cronista, assinando com o pseudónimo de Vera Lagoa…
Como sempre acontece com tudo o que é novo, formou-se uma verdadeira romaria de pessoas à Feira Popular, onde coexistem sensações de deslumbramento perante tal tecnologia e de desolação perante a pobreza das emissões, mesmo descontando o evidente experimentalismo dos primeiros tempos.
As emissões regulares começam a 7 de Março de 1957, tendo como base um estúdio improvisado no Lumiar, que acabaria por durar quase que até aos dias de hoje. São tempos gloriosos dos directos, com todos os acidentes inerentes a tal actividade, da ascensão de várias vedetas, muitas das quais apenas se conhecia voz da rádio. Com uma rede de emissores que cobria, inicialmente, cerca de 65 por cento do território nacional, a televisão entra de rompante na vida dos portugueses e, aos poucos, vai-se impondo como meio de comunicação de referência, se bem que os censores do Estado Novo não deixassem os profissionais de então da RTP pôr o pé em ramo verde.
O ano de 1959 marca o desbravar de novos horizontes na televisão em Portugal. Em Outubro nascem os estúdios do Norte, situados, tal como agora, no Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, concretizando-se ainda a adesão à União Europeia de Radiodifusão, a popular Eurovisão, durante largos anos conotada com o famoso, e quase sempre trágico para Portugal, festival da canção. Só em meados dos anos 60 é que as emissões se estendem à totalidade do País, década que ainda assiste, a 25 de Dezembro de 1968, ao surgimento do segundo canal. A 6 de Agosto de 1972, é dado o pontapé de saída nas emissões da RTP Madeira, modelo de descentralização televisiva que apenas chegaria aos Açores a 10 de Agosto de 1975.
Pelo meio, ainda há o 25 de Abril de 1974, que tem na RTP uma das suas principais armas, e um dos primeiros objectivos dos militares, revolução que vai obrigar a mudanças consideráveis no estatuto na empresa. Em 1975, a RTP é completamente nacionalizada, nascendo a Radiotelevisão Portuguesa EP, através do Decreto Lei 674-D/75 de 2 de Dezembro.
A data de 7 de Março marca uma vez mais um era no seio da RTP. Foi neste dia de 1980 que começaram as emissões a cores. O primeiro passo para o mundo global dá-se a 10 de Junho de 1992 com o início das transmissões da RTP Internacional, para seis anos mais tarde, a 7 de Janeiro de 1998, assumir a liderança do espaço lusófono audiovisual com a entrada em funcionamento da RTP África. Claro que pelo meio de tudo isto há o advento das televisões privadas e de todas as transformações que isso acarretou. Mas isso são contas de outro rosário.
Sabia que?
- O primeiro filme transmitido pela RTP, a 13 de Março de 1957, foi «Fado, História de uma Cantadeira», protagonizado por Amália Rodrigues e Virgílio Teixeira
- O primeiro concurso televisivo surge a 5 de Abril de 1957 e chamava-se «Quem sabe, sabe». Era apresentado por Artur Agostinho.
- É também no primeiro ano de emissões que Maria de Lourdes Modesto dá início aos seus programas de culinária.
- A primeira peça de teatro é o vicentino «Monólogo do Vaqueiro», protagonizado por Rui de Carvalho.
- As históricas emissões do Natal dos Hospitais começam em Dezembro de 1958.
- Os diálogos com o espectador sobre poesia teatro e literatura protagonizados por João Villaret, as «Charlas Linguísticas», do cónego Manuel Machado, ou o «Museu do Cinema», de António Lopes Ribeiro, são alguns dos programas que nos primórdios da RTP mais pessoas prendem ao pequeno ecrã.
- A 6 de Dezembro de 1960 começava aquele que se tornou o programa de televisão de maior longevidade na história da televisão portuguesa: o TV Rural, do famoso engenheiro Sousa Veloso.
- O primeiro Festival da Canção teve lugar a 2 de Fevereiro de 1964 e foi ganho por António Calvário com o tema «Oração».
- 1969 é um ano histórico em termos de conteúdos. Marcelo Caetano começa com as suas famosas «Conversas em Família», enquanto que Raul Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz dão uma pancada no marasmo com o já mítico «Zip Zip». Todas as segundas à noite o País pára para verem algo de diferente. Lá por fora, a 20 de Julho é transmitida em directo a chegada de Neil Armstrong à Lua, mas o Telejornal português remete a notícia quase para um rodapé. O destaque nesse dia foi mais uma inauguração de Américo Tomás. «A smal step for men…»
- José Hermano Saraiva faz a sua estreia em 1971 com o programa «O tempo e a alma».
Fiquem então com uma pequena recordação dos 50 anos da RTP.
1 comentário:
Que bela pesquisa... Muito boa mesmo. Parabéns!
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