domingo, setembro 10, 2006

Mulher em estado vegetativo responde a perguntas


Cientistas britânicos e belgas tentaram perceber o que se passava no cérebro de uma mulher de 23 anos que estava num estado vegetativo há cinco meses, e tiveram uma grande surpresa: quando lhe pediram para imaginar que jogava ténis, activaram-se as mesmas áreas do cérebro usadas por voluntários saudáveis para imaginar o mesmo.

O estado vegetativo é uma das condições menos compreendidas e eticamente mais complicadas da medicina moderna. Este termo descreve uma desordem que afecta os pacientes que saem de coma: parecem acordados, mas sem captarem o que os rodeia. No entanto, estudos que usaram técnicas que permitem observar o cérebro em funcionamento mostraram que podem existir ilhas de função cerebral preservadas numa pequena percentagem de doentes.

Neste caso concreto, os cientistas usaram um exame denominado ressonância magnética funcional, através do qual se pode ver quais as áreas do cérebro activadas para responder a uma determinada situação, medindo alterações nos níveis de circulação sanguínea.

“Estes resultados confirmam que, apesar de preencher os critérios clínicos para o diagnóstico de estado vegetativo, esta paciente retém a capacidade de compreender comandos falados e responder-lhes, através da actividade cerebral, se bem que não através da fala ou de movimentos”, escrevem os cientistas. Além disso, o facto de ela ter decidido colaborar com os cientistas mostra “um acto claramente intencional, o que confirma para além de qualquer dúvida que ela estava consciente de si própria e do que a rodeava.”

Convém, no entanto, não tirar grandes conclusões deste estudo. Generalizar a partir de um só caso é demasiado, sublinha o especialista em imagens neurológicas Lionel Nacchache, num comentário publicado na “Science”. Mas, pelo menos, sugere um método para tentar descobrir quais os pacientes que, apesar de parecerem não comunicativos, podem ter capacidades cognitivas residuais — e dar-lhes meios para “comunicarem os seus pensamentos, modulando a sua actividade neuronal”, escreve a equipa de Owen.

Mas afinal o que se passa no cérebro das pessoas num estado vegetativo persistente? Será que conseguem sentir a presença dos familiares e amigos, será que percebem o que se passa à sua volta, embora pareçam ausentes? Esta dúvida faz sofrer muitas pessoas, e está na base de obras de ficção comoventes, como o filme “Fala com Ela”, de Pedro Almodóvar.

A verdade é que o estudo é inconclusivo. Como são inconclusivas outras questões como a telepatia e telequinese, em que há uma grande actividade cerebral sem qualquer expressão física do corpo. O ponto fulcral no meu ver é saber se é possível ainda recuperar alguém que se encontra em estado vegetativo, com o menor número possível de lesões.

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