Destinada a adolescentes e público em geral, "A Birra do Morto", original de Vicente Sanches, é uma comédia sobre a morte que a Companhia Contigo Teatro apresenta até domingo, 12 de Fevereiro, no Teatro Municipal Baltazar Dias.A encenação é de Miguel Vieira, também responsável pela selecção musical, adaptação do texto e desenho de luz que, apesar de "satisfeito com a entrega dos jovens actores", lança o aviso "de que o teatro amador precisa de ser tratado com mais dignidade".
Começando por dizer que "o elenco é composto por jovens estudantes e outros trabalhadores", Vieira realça o espírito profissional que tem encontrado. "É gratificante ver, nos trabalhos que tenho feito na Contigo Teatro, o amor desses actores amadores pelo que fazem, porque ao fim de um dia de aulas ou de trabalho, ainda se dedicam a uma tarefa que exige criatividade. E isso é de louvar", reconhece o encenador que, continuando, deixa claro "o excelente trabalho realizado pela Contigo Teatro não só ao nível de formação, mas também no critério das peças que tem vindo a apresentar".
Questionado se a companhia tem sentido dificuldades em realizar as suas produções, Miguel Vieira recorda que "todos sentem dificuldades", mas não esconde "que o teatro na Madeira podia ser muito mais dignificado", e as suas palavras são marcadas pelo desalento. "Sabe, em oito anos que tenho de teatro na Madeira, por vezes tenho vontade de sair para criar outras coisas. Porque aqui sentimo-nos atrofiados e com falta de apoios", confessa Vieira, fazendo questão de esclarecer que a falta de espaços é a principal dificuldade com que se depara.
"É um facto que estão a surgir espaços culturais. Só que não são feitos para que os grupos de teatro amador possam fazer formação e apresentar os seus trabalhos. Isso é complicado para a sua sobrevivência porque essas formações, sendo as raízes da terra, apesar da crise, trabalham e lutam para mostrar a cultura que o povo tem", defende o encenador que, recusando o conceito de "marginalização", sublinha: "O que os grupos precisam é de espaços no sentido de desenvolverem o seu trabalho e apresentarem-no ao público porque, como amadores, não sobrevivem só do trabalho de formação". Miguel Vieira não esconde ser vontade da companhia em apresentar "A Birra do Morto" "noutros pontos da Região" porque, em seu entender, "é preciso descentralizar".
Hoje e amanhã há sessões especiais para escolas, respectivamente, às 15h00 e 11h00. Os espectáculos para o público em geral são às 21h30, igualmente hoje, amanhã e também sábado, dia em que há uma representação de "A Birra do Morto" pelas 16h00. E a comédia sobe pela última vez, no palco do Teatro Municipal Baltazar Dias, pelas 18h00 de domingo. Bilhetes custam 3 euros (estudantes/terceira idade) e 7 euros (público em geral) e estão à venda no local do espectáculo.
José Salvador - "in" Fim-de-Semana (DN Madeira), 9.2.2006
Esta situação a que o Miguel Vieira faz referência é uma realidade incontornável, que todos os grupos de teatro amador na Madeira, o Contigo-Teatro, o MADS, o Teatral, o TEF, o Gabinete, sofrem. Faltam condições. A uns mais que a outros é verdade, mas todos sofrem sem excepção.
O Contigo-Teatro, por exemplo, não tem espaço próprio. O CT prepara os seus trabalhos na Igreja do Imaculado, num espaço "gentilmente" cedido pelo pároco da freguesia, em troca de um pequeno "fee". O que para um grupo jovem amador, sem fins lucrativos, não deixa de ser algo de doí. Mas pior ainda, é a atitude dos responsáveis pelo Teatro Municipal. Com uma nova política de cobrança pela utilização do espaço do Teatro (30 a 50% da receita total de bilheteira, com um mínimo de 600 euros por espectáculo), torna o palco da sala da Madeira com maior tradição, um espaço inacessível à esmagadora maioria dos grupos de teatro amador.
Na Madeira não há mecenas. Não há apoios às artes. Há pouco espaço para o desenvolvimento cultural, em particular ao teatro. Por muitos sectores continua a ser visto como um "luxo" ou uma actividade lúdica absolutamente dispensável.
Há atitudes que têm que mudar. Há comportamentos que têm de mudar. Em prol de uma sociedade mais aberta, mais desenvolvida, mais tolerante e mais capaz.
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