quinta-feira, outubro 27, 2005

A Praxe

“Bichos” foram baptizados de caloiros


Com este acto, o caloiro entra numa nova fase da vida académica, «sentindo-se agora uma parte integrante da Academia», disse a presidente da Comissão de Praxes, Cristina Miguel. Ao serem baptizados, os “bichos” ascendem “ao reles estatuto de caloiro”, diz o Código da Praxe, documento que rege toda esta dinâmica académica.

A Praxe Académica é um conjunto de tradições geradas entre estudantes universitários e que já há séculos vêm a ser transmitidas de geração em geração. É um modus vivendi característico dos estudantes e que enriquece a cultura lusitana com tradições criadas e desenvolvidas pelos que nos antecederam no uso da Capa e Batina. Praxe Académica é cultura herdada que nos compete a nós preservar e transmitir às próximas gerações.

A palavra Praxe tem origem na palavra grega praxis que significa a prática das tradições, dos usos e costumes. A praxis está de tal modo inserida no nosso quotidiano que quando alguém procede de certa torna só porque era esperado, devido à mecânica dos comportamentos sociais de grupos.

A história da Praxe remonta ao século XIV, praticada na altura pêlos clérigos monásticos, mas o seu contexto mais conhecido aparece no século XVI sob o nome de "Investidas". A Praxe, na época, era na realidade bastante dura para com os caloiros, o que a levou a ser considerada "selvagem" pela opinião popular nos finais do século XIX.

A Praxe revestiu-se historicamente de diversas formas, sofreu inúmeras transformações e chegou mesmo a estar proibida e suspensa. Após o 25 de Abril de 1974 a Universidade deixou se ver vista como um lugar sagrado, destinado a muito poucos, e assim com a democratização da Universidade, voltasse a implantar a grande tradição da Praxe Académica.

Dizem os entendidos que, ao contrário do que se possa pensar, a praxe não é para fazer mal ao caloiro ou gozar com ele, mas sim para ajudar o recém-chegado à Universidade a integrar-se no ambiente universitário, a criar amizades e a desenvolver laços de sólida camaradagem. Que é através da Praxe que o estudante desenvolve um profundo amor e orgulho pela instituição que frequenta, a sua segunda casa.

Pessoalmente tenho uma aproximação ao movimento "praxista" algo ambígua. Ao mesmo tempo que vejo que, de facto, há momentos em que todo o ritual é cumprido com rectidão e respeito pelos mais novos, vejo outros exemplos, de gente barbárie, com comportamentos selvagens, cujo objectivo é a humilhação máxima do reles "bicho", seja por impotência social, seja por meros ressentimentos. A linha é ténue, o que me leva mais vezes a desaprovar o instituto da praxe que a elogiá-lo.

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