Desde há quatro anos - precisamente desde os brutais atentados do dia 11 de Setembro de 2001 - que os Estados Unidos não se sentiam tão vulneráveis. O furacão Katrina devastou Nova Orleães e a região em redor perante a aparente impotência dos responsáveis locais e nacionais. Só que, como disse o Financial Times, "para uma presidência definida pela tragédia, desta vez não há um inimigo externo ao qual atribuir a culpa".
A grande questão que se levantou nos últimos dias foi a de saber como é que George W. Bush reagirá e superará a actual crise. Ao contrário do que aconteceu no 11 de Setembro, os americanos não estão unidos - há críticas aos responsáveis a vários níveis, e que atingem já o Presidente, e desta vez ninguém parece ter medo de ser acusado de anti-patriotismo por as fazer. Como foi possível o fracasso da reacção pós-furacão, o falhanço na ajuda à população de Nova Orleães nos primeiros dias? Estará o país preparado para enfrentar um eventual novo atentado terrorista? O que é que tudo isto significará para o futuro da guerra ao terrorismo? Para onde foram os muitos milhões de dólares gastos na defesa civil desde que as Torres Gémeas de Nova Iorque caíram? Estas são as perguntas que muitos fazem no quarto aniversário do 11 de Setembro.
"Obviamente o nosso país não estava tão preparado para responder a estas mega-catástrofes como gostaríamos, e como muita gente esperaria que estivesse quatro anos após o 11 de Setembro", afirma Richard Falkenrath, analista da Brookings Institution, em Washington. "[O ciclone] mostrou que o país não é tão poderoso nem tão eficaz", concorda Nicole Bacharan, autora de vários livros sobre os EUA, ouvida pela AFP. "Continuam a ser a primeira potência mundial, uma potência enorme no plano militar, económico e cultural, mas não são um país todo-poderoso. O Presidente Bush percebeu isso com o Iraque e com o Katrina". "Se os nossos sistemas funcionaram tão mal quando nem havia um inimigo, como é que as autoridades federais, locais ou governamentais enfrentariam um atentado terrorista sem aviso prévio?", interrogou-se a senadora republicana Susan Collins.
A favor da Administração Bush pode dizer-se pelo menos isto: nos últimos quatro anos não houve um único atentado terrorista, nem sequer de pequena escala, dentro do território norte-americano. "As fronteiras da América estão mais seguras", afirmou, numa conversa telefónica com o PÚBLICO, o analista britânico Mark Duckenfield, da London School of Economics. "Mas fora da América, o número de ataques terroristas tem estado a aumentar", sublinha. O trabalho de prevenção, de um ponto de vista americano, parece, portanto, estar a resultar. Apesar disso, o falhanço da resposta ao Katrina dá às pessoas uma sensação de insegurança. Os custos económicos do furacão são também enormes: mais de 100 mil milhões de dólares, segundo o New York Times, ou seja mais do dobro do orçamento federal anual para a segurança interna.
"A maioria dos americanos pensa que a situação no Iraque não está a correr bem, e muitos acham que se não houvesse tantas tropas lá as coisas teriam corrido melhor em Nova Orleães", explica Duckenfield. "Isto é apenas uma impressão, porque o que aconteceu foi um falhanço na gestão da crise [nomeadamente problemas de coordenação entre os níveis federal e estadual], que não tem a ver com o número de tropas. Mas a impressão conta muito". O analista britânico recorda que as autoridades souberam com antecedência que o furacão estava a avançar para Nova Orleães e teriam tido tempo para alguns preparativos. "Os terroristas não vão dar um aviso prévio de dois dias para eles se prepararem", diz.
No entanto, nada disto deverá ter um efeito muito significativo na política externa da Administração Bush. "Nos próximos meses o Presidente vai ter que se centrar mais em questões internas", prevê Duckenfield, "mas os EUA têm uma grande máquina burocrática/militar no Iraque e no Afeganistão e vão mantê-la. Têm capacidade para fazer várias coisas ao mesmo tempo". O que talvez já não tenham - sobretudo porque não há tropas suficientes, devido ao grande investimento militar que está a ser feito no Afeganistão (em menor escala), mas sobretudo no Iraque - é "a capacidade para lançar mais uma grande iniciativa de política externa, por exemplo uma guerra contra o Irão", afirma o analista, admitindo contudo que esse cenário já estava praticamente afastado mesmo antes do Katrina.
fonte: PUBLICO
A grande questão que se levantou nos últimos dias foi a de saber como é que George W. Bush reagirá e superará a actual crise. Ao contrário do que aconteceu no 11 de Setembro, os americanos não estão unidos - há críticas aos responsáveis a vários níveis, e que atingem já o Presidente, e desta vez ninguém parece ter medo de ser acusado de anti-patriotismo por as fazer. Como foi possível o fracasso da reacção pós-furacão, o falhanço na ajuda à população de Nova Orleães nos primeiros dias? Estará o país preparado para enfrentar um eventual novo atentado terrorista? O que é que tudo isto significará para o futuro da guerra ao terrorismo? Para onde foram os muitos milhões de dólares gastos na defesa civil desde que as Torres Gémeas de Nova Iorque caíram? Estas são as perguntas que muitos fazem no quarto aniversário do 11 de Setembro.
"Obviamente o nosso país não estava tão preparado para responder a estas mega-catástrofes como gostaríamos, e como muita gente esperaria que estivesse quatro anos após o 11 de Setembro", afirma Richard Falkenrath, analista da Brookings Institution, em Washington. "[O ciclone] mostrou que o país não é tão poderoso nem tão eficaz", concorda Nicole Bacharan, autora de vários livros sobre os EUA, ouvida pela AFP. "Continuam a ser a primeira potência mundial, uma potência enorme no plano militar, económico e cultural, mas não são um país todo-poderoso. O Presidente Bush percebeu isso com o Iraque e com o Katrina". "Se os nossos sistemas funcionaram tão mal quando nem havia um inimigo, como é que as autoridades federais, locais ou governamentais enfrentariam um atentado terrorista sem aviso prévio?", interrogou-se a senadora republicana Susan Collins.
A favor da Administração Bush pode dizer-se pelo menos isto: nos últimos quatro anos não houve um único atentado terrorista, nem sequer de pequena escala, dentro do território norte-americano. "As fronteiras da América estão mais seguras", afirmou, numa conversa telefónica com o PÚBLICO, o analista britânico Mark Duckenfield, da London School of Economics. "Mas fora da América, o número de ataques terroristas tem estado a aumentar", sublinha. O trabalho de prevenção, de um ponto de vista americano, parece, portanto, estar a resultar. Apesar disso, o falhanço da resposta ao Katrina dá às pessoas uma sensação de insegurança. Os custos económicos do furacão são também enormes: mais de 100 mil milhões de dólares, segundo o New York Times, ou seja mais do dobro do orçamento federal anual para a segurança interna.
"A maioria dos americanos pensa que a situação no Iraque não está a correr bem, e muitos acham que se não houvesse tantas tropas lá as coisas teriam corrido melhor em Nova Orleães", explica Duckenfield. "Isto é apenas uma impressão, porque o que aconteceu foi um falhanço na gestão da crise [nomeadamente problemas de coordenação entre os níveis federal e estadual], que não tem a ver com o número de tropas. Mas a impressão conta muito". O analista britânico recorda que as autoridades souberam com antecedência que o furacão estava a avançar para Nova Orleães e teriam tido tempo para alguns preparativos. "Os terroristas não vão dar um aviso prévio de dois dias para eles se prepararem", diz.
No entanto, nada disto deverá ter um efeito muito significativo na política externa da Administração Bush. "Nos próximos meses o Presidente vai ter que se centrar mais em questões internas", prevê Duckenfield, "mas os EUA têm uma grande máquina burocrática/militar no Iraque e no Afeganistão e vão mantê-la. Têm capacidade para fazer várias coisas ao mesmo tempo". O que talvez já não tenham - sobretudo porque não há tropas suficientes, devido ao grande investimento militar que está a ser feito no Afeganistão (em menor escala), mas sobretudo no Iraque - é "a capacidade para lançar mais uma grande iniciativa de política externa, por exemplo uma guerra contra o Irão", afirma o analista, admitindo contudo que esse cenário já estava praticamente afastado mesmo antes do Katrina.
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