segunda-feira, janeiro 28, 2008

Os Vizinhos...


Em Março de 1985, num modesto canal de televisão australiano, estreiava o primeiro episódio de "Neighbours" (Vizinhos, em título nacional), que se tornaria a "série marco" da tv australiana e mundial (em Portugal passou na RTP2, da década de 90). Hoje, ainda é exibido na Australia e no Reino Unido, vai na 17ª temporada e já ultrapassou os 5 mil episódios.

Em suma, a série retrata da vida dos residentes de "Ramsay Street", no ficcionado subúrbio australiano de Erinsborough. Quando a série começou revolvia à volta de três famílias - os Ramsays, os Robinsons e os Clarkes, que viviam no n.º 24, 26 e 28, respectivamente. Actualmente, a rua cresceu, assim como a história alargou-se a mais famílias, com todas as suas "trincas", discussões, vivências, bilhardices, escândalos, alegrias, festas, nascimentos e chegadas, partidas e mortes.

Mas esta "Ramsay Street" poderia ser perfeitamente uma qualquer rua do Funchal, e a história dos Ramsays e Robinsons, poderia ser a dos "Silvas" ou dos "Farias". E a propósito disto, vem hoje uma reportagem interessante no Diário de Notícias da Madeira, intitulada "Somos Vizinhos Conflituosos".

Na realidade, se algum dia decidissem deixar de fazer porcarias como "Homens de Passagem" e fizessem uma novela dentro deste estilo, matéria não iria faltar. Obrigados a conviver com a falta de espaço físico revelado num excesso de densidade populacional, os madeirenses não escondem os conflitos de vizinhança, nem hesitam em levar os casos à câmara ou a polícia, o que não deixa de ser curioso, por estarmos a falar da terra com alegado "défice democrático".

As queixas por má vizinhança compõem o grosso das reclamações que dão entrada nos serviços municipais da Câmara do Funchal e são uma parte significativa das denúncias apresentadas nas esquadras da PSP. De um lado (tenta-se) revolver a burocrácia da má vizinhança nas autarquias, consubstanciada em discussões sobre distâncias, muros, fumo, barulho incluindo o insistente ladrar canino. Enquanto que as questões mais pessoais, que passam por injúrias, agressões, insultos, vandalizações, furtos, quer seja de um colar de ouro, quer seja uma maçã, são levadas para as esquadras.

Mas que não se julgue que estas discussões limitam-se a pessoas individualizadas e suas residências. Assim de repente lembro-me da disputa entre os moradores do Infante e o "Clube A", ou da "Casa do Porto" nos Barreiros. Acabou tudo no Tribunal e com a obrigação de encerramento do clube e da casa.

Recente é (mais) uma polémica com o "Estádio da Madeira" na Choupana. Os moradores reclamam junto da Câmara Municipal do Funchal da fundada ameaça de queda de pedras, numa das zonas circundantes ao Estádio (atendendo que em Maio do ano passado uma pedra de grandes dimensões causou pânico e danos materiais, no Caminho do Meio). Enquanto que os moradores temem pela sua segurança, em resposta, o Clube Desportivo Nacional não só se recusa a prestar esclarecimentos, como questiona a legalidade das residências e ameaça denunciar o caso à Câmara, remetendo tudo para "dores de cotovelo".

E nisto andamos. De discussão em discussão, conflito em conflito, na nossa, bem madeirense, telenovela.

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