terça-feira, junho 12, 2007

Maluca no Autocarro

Esta história saiu na revista FHM do mês de Maio deste ano, e chegou-me às mãos "via Marco". É de bradar aos céus...

Entrei no autocarro e como sempre dirigi-me para o banco onde me sento habitualmente, uma espécie de ritual diário. Vou sempre do lado da janela, mas naquele dia levava umas cartolinas, encostei-as à janela e encostei a mochila para segurar as ditas, ficando assim do lado do corredor. Como a viagem é longa, peguei no telemóvel e comecei a jogar. Do outro lado do corredor ia uma senhora com cerca de 45 anos, que nunca tinha visto ali naquele autocarro. Começou a viagem e passados dez minutos, desviei o olhar do telemóvel e conseguir reparar que a dita senhora ia a olhar para mim. Qual não é o meu espanto, quando com o dedo indicador ela me toca no ombro e diz: “Ou você desliga já o telemóvel ou eu parto-lhe já isso!”.

Fiquei sem reacção perante tal ameaça. Na mais completa ignorância, perguntei porquê. Ela respondeu-me assim: “Porque é todo o santo dia a mesma coisa, andam-me sempre a tirar fotografias e já estou farta!” E eu disse-lhe: “Olhe, nem sequer a conheço, que gosto teria em lhe tirar fotografias?” Diz ela: “Não quero saber.” Digo eu: “Mas se vou aqui a jogar, porque razão lhe tiraria fotos?” (Sim, porque o jogo sempre era mais bonito que ela).

A conversa durou mais um bocado, com toda a gente a rir com esta comédia, menos ela que até já transpirava com os nervos, tal como eu. Mas por estranho que pareça, dava-me vontade de rir e, já farto da conversa, disse-lhe: “Então estrague-me isso que depois a gente fala”. E finalmente cala-se e troca de banco, ficando junto à janela.

Eu já farto de jogar, continuei, só para fazer a senhora sofrer. O que resultou porque a senhora, de um modo patético, pôs uma revista à frente da cara de modo a que eu não a conseguisse ver. Então nessa altura ia desatando a rir às gargalhadas, tanto eu como as pessoas que iam a assistir a esta espectáculo. É claro que estava bastante enervado com a situação. Continuei a brincar com o telemóvel. Ela, farta de ali estar, conseguiu arranjar um lugar na frente. E eu desesperado para que a senhora fosse embora, arrumei o telemóvel. Na hora de sair, ao passar por ela, a senhora insistiu na lengalenga, mas eu ignorei-a porque não me queria aborrecer mais. Marcelo Lopes.

Clique aqui para ver o original.

Sem comentários: