terça-feira, julho 26, 2005

Vítimas da vaidade

Os anabolizantes são drogas consideradas anti-éticas na medicina, mas ganham espaço nos ginásios e academias prometendo o efeito de "corpo-perfeito"
Por Denise Molinaro

Sabe aquela mulher que quando está de costas parece um homem? Pode apostar que ela usou anabolizantes. O esteróide anabólico, popularmente conhecido como "bomba" é um material sintético similar ao hormônio masculino testosterona, que também é encontrada nas mulheres, porém em quantidade 100 vezes menor.

Alterar e acelerar o metabolismo para alcançar a silhueta das estrelas do cinema e da TV é o objectivo das frequentadoras assíduas dos ginásios. Porém mesmo com total dedicação ao treino, essas mulheres precisam de um aliado para definir cada músculo. Daí que surge a procura pelos anabolizantes, drogas que aceleram o metabolismo e provocam o crescimento da massa muscular. Colocados dessa forma, até parece que são milagrosos companheiros de quem pretende melhorar o rendimento nas actividades físicas ou destacar a estética corporal. Nada disso. O perigo é muito maior e os efeitos-colaterais são desastrosos: calvice, acne, agressividade, hipertensão, interrupção no processo de crescimento dos adolescentes, aumento do colesterol, crescimento de pêlos na face, engrossamento da voz, hipertrofia do clitóris, dores de cabeça, infertilidade, insônia e lesão no fígado.

As mudanças físicas, tanto evidentes, quanto rápidas denunciam a transformação decorrente do uso da droga, banalizado por sinal. A facilidade com a qual se compra as ampolas de "durateston", "winstrol depot" e "deca durabolin" (os anabolizantes mais comuns) impressiona os médicos e treinadores desportivos, porque não exige receita médica, fazendo com que muitos usuários comprem até mesmo dos colegas nos ginásios e academias, no já chamado "mercado negro dos esteróides".

Um dos principais problemas está na divulgação: mulheres que usam e ficam com o corpo perfeito, estimulam outras. O físico aumenta, a aparência melhora, desfila na praia, mas sua saúde está definhando. Segundo o médico Fernando Torres , supervisor geral da Fórmula Academia, no Brasil, a dosagem descontrolada de anabolizantes sobrecarrega o fígado, aumenta a pressão arterial, podendo ocorrer sobrecarga cardíaca. Pode haver também sobrecarga renal. No coração, existe o perigo de hipertrofia do miocárdio, potencializando problemas como arritmias, isquemia e até enfartes.

Na verdade, o que encanta as mulheres é a acção lipolítica imediata do anabolizante, ou seja, o poder de reduzir significativamente a gordura, dando aquele aspecto de corpo "são", com formas secas e definidas, além do que, a mulher ganha muito mais "pica" para treinar. Aí está outro perigo: não percebe quando deve diminuir o ritmo da actividade física provocando problemas nos tendões e ligamentos, pois o aumento da força é desproporcional a capacidade de adaptação.

O descontrole não é só na actividade física, para o médico Hamilton Junqueira, do Instituto Avançado de Diabetes e Endocrinologia de Belo Horizonte, o problema está no consumo exagerado na dosagem das ampolas, uma vez que a mulher está ansiosa pelo resultado rápido na transformação do corpo. Hamilton já atendeu uma paciente que tomou num só dia 12 ampolas de "durateston", um dos esteróides responsáveis pelo aumento de massa muscular. Geralmente essa dose é usada em homens com testosterona deficiente, na seguinte dosagem: uma ampola em cada 21 dias. Esse uso exagerado poderá até causar uma hepatite fulminante.

A combinação elaborada de uma dieta saudável seguida à risca, conciliada com um treino diário e a ingestão de suplementos vitamínicos elaborada por um médico endocrinologista, também é capaz de fazer com que a mulher chegue ao tão desejado corpo definido, evitando o uso de drogas anabolizantes que "desenham as curvas e tonificam os músculos", mas que destroem a saúde e prejudicam o sistema imunológico.

É importante lembrar que o caminho mais curto nem sempre é o melhor caminho.

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