(imagem RTP)
Se alguma coisa boa adveio desta crise política, foi precisamente fazer as pessoas perceber que não estamos sozinhos nisto. Ou seja, a tão propalada e necessária estabilidade governamental não é afinal uma ameaça vã, uma espécie de bicho papão para manter as pessoas em alerta. Ela existe, é real e tem consequências devastadoras.
Com um simples "demito-me" do, naquele momento n.º 2 do Governo, Paulo Portas, a reacção dos mercados não se fez esperar. O
sentimento dos investidores ficou totalmente dependente da situação
política, que ontem ameaçava deixar em aberto a manutenção da coligação
de governo, e isso foi visível em duas frentes: na bolsa, sobretudo com a
banca exposta ao risco da dívida soberana, e nos próprios mercados de
obrigações em que são revendidos títulos de dívida.
O PSI-20
chegou a perder mais de 7%, naquela que foi a mais violenta queda na
bolsa portuguesa desde a falência do Lehman Brothers em 2008. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) proibiu
temporariamente as vendas a descoberto de acções do Banif, BES, BCP e
Sonae Indústria, devido ao facto destas cotadas terem tido uma
desvalorização bolsista superior a 10%. Acabou por
recuperar no fecho da sessão, acabando por deslizar 5,31%, mas teve
mesmo assim a descida mais forte desde 2010. E isto num espaço de horas. No mercado secundário
de dívida, o risco em relação às obrigações portuguesas disparou para o
valor mais alto registado este ano, com os investidores a pedirem taxas
de juro acima de 8% pela compra de títulos com prazo de dez anos. Já hoje
os juros implícitos baixaram para 7,2%, um patamar ainda assim arriscado, numa
altura em que Portugal se prepara para regressar ao financiamento pleno
no mercado primário.
E, de repente, aquelas vozes que clamavam o fim deste Governo, calaram-se, ensurdecidas pelas vozes daqueles que nem querem pensar nesta hipótese. O nosso problema é que, de facto, não vivemos sozinhos e que particularmente na Europa fazemos parte de um grupo que já meteu
muito dinheiro no nosso país, grande parte dele a fundo perdido.
Pelo que, qualquer foco de instabilidade como o presente tem repercussões dentro e fora do nosso país.
Mas
como tudo na vida, é preciso sempre ver os dois lados da moeda. O
exemplo Português e a presente situação poderão servir para marcar o fim daquilo que tem sido o fracasso da politica europeia de austeridade a
qualquer preço. Poderá desta forma marcar uma
viragem no rumo do nosso país, no sentido de estimar o emprego, o
investimento e o crescimento. Sempre tendo em atenção que apesar de Portugal ter assegurado as suas
necessidades de financiamento para 2013 e permanecendo sob o programa de
ajuda financeira até meados de 2014, até lá terá de provar que é capaz
de se financiar a longo prazo. E esse é o verdadeiro desafio que se impõe a Pedro Passos Coelho e a Paulo Portas, com os dois no Governo ou não. E não tenho dúvidas que aqui Passos tem de ceder.
Portugal assim o exige.
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