(Foto: Ricardo Perestrelo)
Por falar em subsídio-dependentes, na sexta-feira passada fui ver a peça "A Nossa Cidade" que o TEF (mais uns quantos grupos que são ignorados na apresentação), tem em exibição no Teatro Municipal Baltazar Dias, até ao dia 30 de Março próximo.
A peça, baseada no obra de Thorton Wilder "Our Town", mantém-se em parte fiel ao seu original, acrescentando uma companhia ao Narrador / Director de Cena e mudando a cidade fictícia de Grover's Corners para o Funchal. Recorrendo a um minimalismo interessante, a peça divide-se em 3 actos, onde seguimos a vida de duas famílias (os Lemos e os Pestanas) na cidade do Funchal, em 1901, e em particular o desenlace amoroso dos filhos mais velhos, Emília e Jorge.
Os actos Um (a vida quotidiana) e Dois (o casamento) estão muito bons, apesar de algum abuso no estereótipo. A vizinha metediça, o coro e o drama da sua "maestro" bêbeda, o descascar das ervilhas, o leiteiro e a sua égua, os jovens que namoram, o comboio que parte para o Monte e muitas outras referências da cidade do Funchal estão representados de uma forma muito agradável e apelativa (como a cena do prof. Franquinho).
O acto Três (o funeral) é, na obra de Wilder, o mais intrincado, o de reflexão sobre a singularidade da vida, os momentos preciosos que desperdiçamos, que só os mortos são capazes de se aperceber. Não é fácil depois de quase 2 horas, ter bagagem mental para assimilar o corte na "alegria".
Mas o pior vem mesmo depois, numa clara situação em que a liberdade artística de adaptação deveria ser absolutamente... cerceada! O vídeo com que a peça encerra, não só é de uma tremenda falta de gosto como é desapropriado para a história em si, o que deve ter deixado o Wilder a dar voltas no túmulo! Esta clara colagem de agradecimento à representação que fornece o caché é fruto do que mencionei no post anterior - a clara incapacidade de "separar águas".
2 comentários:
já havia lindo o post antes de ir ver a peça!
Devo dizer que desconheço a peça original. Contudo o apelo ao "gostar da nossa cidade" está formidavel... Aquele poema com o vídeo está super apelativo...
Adorei mesmo a peça...
Compreendo que não se pode agradar a toda a gente... é um facto. Mas uma coisa é certa, nem toda a gente pensa que o correcto é bajular e andar a lamber botas... há quem faça as coisas por paixão e por sentir aquilo que diz. O texto final pra mim foi mais que um apelo ao "gostar da nossa cidade"... foi um momento de grande emoção pela forma como foi escrito e dito. Foi um remexer na minha alma, pela sua beleza. Quanto ao video... quase nem era necessário, com aquele magnífico texto... Esse por si só "dizia" tudo.
Quanto ao subsídio...
Quantos grupos na Madeira pagam actores? Quantos grupos na Madeira fazem 4 produções anuais? São suficientes ou querem mais perguntas? Ou também querem as respostas?
Pensem... e depois critiquem. :)
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