Faz hoje 30 anos que Alberto João Jardim assumiu a presidência do Governo da Região Autónoma da Madeira. De lá para cá, tem sido o "papa-eleições". Só para termos uma noção de passagem de tempo, eu nem era nascido (por pouco é verdade, mas não o era de facto). Pelo que é realmente, muito tempo.
O Diário traz hoje uma entrevista com Jardim, acompanhada de uma extensa reportagem sobre o seus 30 anos no poder, ao qual eu recomendo uma leitura. Vem também um daqueles inquéritos de opinião (daqueles que eu quero responder e nunca sou abordado... ainda por cima sou uma pessoa disponível... ai ai...), que pede aos inquiridos para apontar o melhor e o pior dos 30 anos de Jardim.
Mesmo que ninguém me tenha perguntado coisa alguma, eu respondo na mesma: o melhor é claramente o desenvolvimento técnico e básico da ilha. Fez-se estradas, pontes, túneis, e encurtou-se distâncias. Construiram-se instalações para a prática desportiva e cultural e escolas. Fez-se escolas. Tornou-se a ilha numa referência turística mundial. Melhorou-se o aeroporto e próprio porto. A electricidade chegou a toda a ilha. A cobertura da televisão também. Fomos os pioneiros na tv por cabo em Portugal. A generalização do saneamento básico foi um marco importante, com o gradual aumento das condições de vida dos habitantes da ilha. Levou o nome Madeira aos 4 cantos do mundo e deu visibilidade a esta pequena ilha do Atlântico mediante um combate feroz aos poderes instituidos (e por vezes colonialistas) do continente.
Mas como não há bela sem senão, a maior nega vai para o pouco investimento no desenvolvimento social do madeirense. Investiu-se muito no aspecto material mas pouco no aspecto intelectual. Tal como um bom pai que quer dar tudo ao filho, tudo foi dado aos madeirenses. Tudo de bom é certo, mas tudo de material, entenda-se. Fizeram-se escolas mas investiu-se pouco nos programas. Fizeram-se instalações desportivas, jogaram-se rios de dinheiros para os clubes e associações com o objectivo de produzir resultados e não homens para a vida. Entregou-se a cultura a meia dúzia de iluminados que decidem o que deve ser ou não lido, o que merece ser ou não visto, o que vale a pena ou não.
Pior que isto foi criar um sociedade subsídio-dependente, que acha que não tem de trabalhar para ter a sua casa. Ou porque tem dificuldades, ou porque está desempregado ou porque tem mais coisas que fazer que trabalhar 8 ou 9 horas por dia, é o Governo é que tem a responsabilidade de dar a sua casinha. E de preferência pagar por ela. Ignorou-se problemas sociais e estruturais graves, como a toxicodependência, o alcoolismo, o abuso infantil e doméstico - apenas agora começamos a ver algum trabalho feito neste sentido.
Há um provérbio chinês que se pode muito bem aplicar a estes 30 anos de Jardim que, no meu entender, foi a grande pecha no seu plano: "antes de dares o peixe a quem tem fome, ensina-o antes a pescar".
3 comentários:
Quem me dera que fossem mais 30 anos...
Pois é... a isto se chama renovação! ...ou talvez não. Mas antes o sr. Jardim que um dos Ramos, Souzas ou outro dos seus lacaios.
Reconheço-lhe trabalho...mas as dívidas exorbitantes que as suas gestões acumularam, assim como o modelo de desenvolvimento insustentável, são um pesadíssimo fardo para as gerações futuras.
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