Uma verdade inconveniente
Data: 31-07-2007
Espero que o Al Gore não se chateie por lhe pedir emprestado o título do seu fantástico documentário sobre a defesa do ambiente, mas é, sem dúvida, o mais ajustado e adequado àquilo que vos quero hoje transmitir. Tenho a certeza que ele não se aborrecerá. Decidi, neste período de "defeso", reflectir sobre um tema cuja polémica ganha contornos "hospitalares" - o futuro estádio do Clube Sport Marítimo.
Como todos nós temos perfeita consciência, vivemos hoje num período de "vacas magras" (para não as chamarmos por outros nomes piores). Desde que fomos apresentados ao Euro, o nosso custo de vida duplicou, ao arrepio do acompanhamento salarial. Todos se recordam de quanto custava um café no final do milénio e quanto custa actualmente. Esta situação teve e tem reflexos, não só a nível pessoal, mas igualmente a nível do Estado - reflexo de uma grave falência do estádio providência. A população envelhece, a mão-de-obra escasseia, o preço do barril de petróleo sobe, os impostos acompanham, a despesa exterior acumula-se. Com a centralização da moeda no Banco Central Europeu e em outras instituições internacionais, os próprios Estados perderam o trunfo da sua produção, sujeitando-se agora às inconstâncias do mercado mundial. Com custos acrescidos.
Que não se iluda, caro leitor. Os tempos são de crise. Simplesmente, cada vez há menos dinheiro disponível para todos nós. E a Madeira não é uma excepção.
Mas uma coisa que não diminui: a necessidade. Em particular, as necessidades da população - escolas, hospitais, empregos, pólos para a pratica desportiva; água, alimentos, cuidados medicamentosos… necessidades a que o Estado tem que acorrer, nem que seja permitindo que outros as possam prestar. Assim, há que ponderar, há que racionalizar, há que optimizar recursos e aplicá-los da forma mais correcta e concreta possível.
Agora vamos ao que interessa. Um estádio, seja em que local do mundo esteja, nunca será uma prioridade. Sobretudo quando está apenas para servir uma única modalidade desportiva (mesmo que essa seja o desporto-rei). Mas, mesmo não sendo uma prioridade - isto quando comparado com a necessidade de escolas, estradas, hospitais, bibliotecas, recintos desportivos para o uso do cidadão - poderá ser (e com certeza o é), uma necessidade em determinado ponto. E actualmente é uma necessidade para a Madeira. Imagino concertos, óperas, bailados, desportos "extremos", artes circenses, eventos culturais de grande escala... e sim, é claro, as partidas de futebol...
Na minha opinião um estádio digno e em condições é suficiente para a Madeira. Um estádio que sirva o Marítimo e o Nacional (visto que são as duas equipas que disputam a Liga) é suficiente. É a situação mais racional, mais lógica, mais optimizada, mais de acordo com os tempos de crise que se vivem hoje em dia. No entanto, essa é uma oportunidade perdida. O Nacional já tem o seu estádio. O União idem. Machico, Ribeira Brava, Portossantense idem. Curiosamente (ou não), o único que não o tem é o Marítimo, o que, nestes contornos, torna legítima a sua indignação e consequente reclamação.
Mas, aquilo que seria natural esperar, tem sido alvo de valentes críticas, algumas vindas de sectores que pouco ou nada têm a ver com despesas e apoios públicos. Sempre que se ouve falar em estádio para o Marítimo, levantam-se vozes a bradar despesismo, a clamar por hospitais, discute-se apoios e dinheiros gastos com futebol. Percebe-se o objectivo por detrás: descredibilizar o projecto e frustrar as intenções maritimistas. Percebe-se por aquilo que querem esconder...
Alguém já perdeu tempo a contabilizar quanto foi gasto com recintos desportivos (leia-se estádios) na Região, nos últimos 5 anos? Construiu-se um novo complexo na Ribeira Brava. Ninguém disse nada. A AFM finalmente realizou o seu desejo com o Complexo de Gaula. Ninguém disse nada. E quanto já foi injectado para a nova "bancada" do estádio da Madeira? Pelas minhas contas já vai em mais de 20 milhões de euros. Ninguém diz nada.
No entanto, um estádio que ainda nem sequer passou do papel é o culpado por não haver dinheiro para outros projectos? Por alegadamente não haver dinheiro para um novo Hospital? Por alegadamente não haver dinheiro para as senhoras da Região, obrigando-as a se deslocar ao continente para serem "voluntariamente assistidas"?
Doa a quem doer, o Marítimo vai ter o seu estádio. Frustrada que foi a renovação dos Barreiros, frustrada que foi a intenção de um estádio conjunto, é inqualificável que se gaste milhões e milhões de euros em projectos (esses sim megalómanos) de clubes de dimensão claramente reduzida, e ao mesmo tempo se queira que o maior clube da Região e um dos maiores de Portugal, o maior responsável pela promoção da ilha no exterior ao longo dos anos, não tenha ambições, nem mereça sequer o apoio dos responsáveis regionais. Mais inqualificável é que se queira esconder estas verdades… verdadeiramente inconvenientes.
Como todos nós temos perfeita consciência, vivemos hoje num período de "vacas magras" (para não as chamarmos por outros nomes piores). Desde que fomos apresentados ao Euro, o nosso custo de vida duplicou, ao arrepio do acompanhamento salarial. Todos se recordam de quanto custava um café no final do milénio e quanto custa actualmente. Esta situação teve e tem reflexos, não só a nível pessoal, mas igualmente a nível do Estado - reflexo de uma grave falência do estádio providência. A população envelhece, a mão-de-obra escasseia, o preço do barril de petróleo sobe, os impostos acompanham, a despesa exterior acumula-se. Com a centralização da moeda no Banco Central Europeu e em outras instituições internacionais, os próprios Estados perderam o trunfo da sua produção, sujeitando-se agora às inconstâncias do mercado mundial. Com custos acrescidos.
Que não se iluda, caro leitor. Os tempos são de crise. Simplesmente, cada vez há menos dinheiro disponível para todos nós. E a Madeira não é uma excepção.
Mas uma coisa que não diminui: a necessidade. Em particular, as necessidades da população - escolas, hospitais, empregos, pólos para a pratica desportiva; água, alimentos, cuidados medicamentosos… necessidades a que o Estado tem que acorrer, nem que seja permitindo que outros as possam prestar. Assim, há que ponderar, há que racionalizar, há que optimizar recursos e aplicá-los da forma mais correcta e concreta possível.
Agora vamos ao que interessa. Um estádio, seja em que local do mundo esteja, nunca será uma prioridade. Sobretudo quando está apenas para servir uma única modalidade desportiva (mesmo que essa seja o desporto-rei). Mas, mesmo não sendo uma prioridade - isto quando comparado com a necessidade de escolas, estradas, hospitais, bibliotecas, recintos desportivos para o uso do cidadão - poderá ser (e com certeza o é), uma necessidade em determinado ponto. E actualmente é uma necessidade para a Madeira. Imagino concertos, óperas, bailados, desportos "extremos", artes circenses, eventos culturais de grande escala... e sim, é claro, as partidas de futebol...
Na minha opinião um estádio digno e em condições é suficiente para a Madeira. Um estádio que sirva o Marítimo e o Nacional (visto que são as duas equipas que disputam a Liga) é suficiente. É a situação mais racional, mais lógica, mais optimizada, mais de acordo com os tempos de crise que se vivem hoje em dia. No entanto, essa é uma oportunidade perdida. O Nacional já tem o seu estádio. O União idem. Machico, Ribeira Brava, Portossantense idem. Curiosamente (ou não), o único que não o tem é o Marítimo, o que, nestes contornos, torna legítima a sua indignação e consequente reclamação.
Mas, aquilo que seria natural esperar, tem sido alvo de valentes críticas, algumas vindas de sectores que pouco ou nada têm a ver com despesas e apoios públicos. Sempre que se ouve falar em estádio para o Marítimo, levantam-se vozes a bradar despesismo, a clamar por hospitais, discute-se apoios e dinheiros gastos com futebol. Percebe-se o objectivo por detrás: descredibilizar o projecto e frustrar as intenções maritimistas. Percebe-se por aquilo que querem esconder...
Alguém já perdeu tempo a contabilizar quanto foi gasto com recintos desportivos (leia-se estádios) na Região, nos últimos 5 anos? Construiu-se um novo complexo na Ribeira Brava. Ninguém disse nada. A AFM finalmente realizou o seu desejo com o Complexo de Gaula. Ninguém disse nada. E quanto já foi injectado para a nova "bancada" do estádio da Madeira? Pelas minhas contas já vai em mais de 20 milhões de euros. Ninguém diz nada.
No entanto, um estádio que ainda nem sequer passou do papel é o culpado por não haver dinheiro para outros projectos? Por alegadamente não haver dinheiro para um novo Hospital? Por alegadamente não haver dinheiro para as senhoras da Região, obrigando-as a se deslocar ao continente para serem "voluntariamente assistidas"?
Doa a quem doer, o Marítimo vai ter o seu estádio. Frustrada que foi a renovação dos Barreiros, frustrada que foi a intenção de um estádio conjunto, é inqualificável que se gaste milhões e milhões de euros em projectos (esses sim megalómanos) de clubes de dimensão claramente reduzida, e ao mesmo tempo se queira que o maior clube da Região e um dos maiores de Portugal, o maior responsável pela promoção da ilha no exterior ao longo dos anos, não tenha ambições, nem mereça sequer o apoio dos responsáveis regionais. Mais inqualificável é que se queira esconder estas verdades… verdadeiramente inconvenientes.
1 comentário:
Sabe-se que a direcção do Marítimo, fazendo a gestão do presente (e hipotecando o futuro) estará prestes a adjudicar a obra dos Barreiros ao projecto alternativo que apresenta custos por metro quadrado 50% superiores às das restantes propostas.
O Governo Regional terá feito o devido, havendo informações terá clarificado o apoio a conceder (31,5 milhões), limitando-o ao valor da componente desportiva do projecto. Fez bem e terá dado liberdade ao Clube para decidir conforme achar por bem, podendo construir (ou planear para construção futura) para além da componente desportiva, agora que está esclarecido que as condicionantes de uso desportivo impostas na cedência do antigo campo do Nacional por cidadãos funchalenses associados, em meados do século passado, apenas se aplicavam a menos de metade do terreno actual.
Os problemas e contras daquela opção são grandes, mas tudo parece estar direccionado para ali:
Esse projecto alternativo apenas constrói (a altos custos) a parte desportiva e impede qualquer possibilidade futura de viabilização da estrutura através da inclusão de espaços comerciais. Típico de gestores de hoje que apontam apenas para a inauguração e não para um futuro sustentado.
De salientar que um restaurante e um bar de venda de amendoins não fazem deste espaço um espaço “comercial”. No mínimo, é de esperar, é possível e está considerado no projecto-base (e não nesta alternativa), uma área de 10 mil metros quadrados com fins comerciais.
O projecto alternativo valerá 20 milhões (600 Euros/m2 x área a construir) mas custará 31,5 milhões (valor proposto).
O projecto base (numa das suas possíveis variantes) custaria os mesmos 31,5 e asseguraria a mesmíssima componente desportiva, mas incluiria áreas vazias e em tosco, disponíveis para futuros usos e investimentos comerciais. Não sendo necessário, agora, mais dinheiro. No futuro, quando fossem oportunos e possíveis, esses processos seriam desencadeados. Uma opção para gestores com visão. Que, esperemos, demonstrem que o são, os actuais dirigentes do Marítimo.
Curiosamente, o projecto alternativo é… igual ao do Nacional. Requentado. Como deseja o presidente deste clube adversário que, assim, manietará Carlos Pereira “obrigando-o” a ter, como ele, um “elefante branco”. Não optando por distribuir as bancadas à volta de todo o campo, esta alternativa faz subir o impacto visual e a volumetria. Penalizando a cidade e a vizinhança e reduzindo a qualidade do ambiente de jogo (veja-se onde há mais actividade nos estádios ingleses).
O projecto alternativo é … alternativo. E não uma variante à proposta base que o próprio Marítimo colocou a concurso. Ora, assim, será uma proposta ilegal face às condicionantes colocadas a concurso. O que motivará ou poderá motivar as reclamações justas e procedentes dos restantes concorrentes. Afinal, se uma assinatura em falta afastou um concorrente, como pode ser mantida a concurso uma proposta alternativa (e não variante) fora do objecto do concurso? Afinal, também, a definição de proposta variante é clara e está indicada na legislação utilizada – e já descontinuada - para este procedimento legal (concurso).
Com o prejuízo do Marítimo e de recursos financeiros públicos envolvidos, poderá agora, acontecer o que aconteceu no Estádio da Serra. Quando se cobram 31,5 por algo que vale 20, sobram 11,5. Dará para “calar” e abafar as reclamações dos concorrentes lesados (1 a cada), para pagar a publicidade nas camisolas da equipa por 5 anos (mais 5) e sobrará ainda, para além da margem de lucro da obra, outros 5, para o empreiteiro. Depois, será mais difícil, mas, para ser tudo igual, teremos um novo Estádio gémeo ao da Choupana, que terá o nome de Carlos Pereira. Ao fim dos 5 anos, sem qualquer meio de subsistência que não os minguantes apoios públicos, o Estádio mudará o seu nome para Estádio da RAM e rogará por mais alguns subsídios. Pois o Estádio não terá outra forma para ser mantido e o Clube, gradualmente, se afundará em problemas económicos. Virá outro presidente, depois do actual ir para o Brasil e o Clube juntar-se-á a outros históricos desaparecidos. Basta lembrar o Boavista, Amadora e Setúbal. E, antes, os emblemas algarvios…
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