quinta-feira, janeiro 18, 2007

A propósito do Referendo...

Ela merece ir presa?

8 comentários:

Anónimo disse...

Para mim a questão não é se merece ir ou não presa. De uma forma simplista, não é sequer se se é a favor ou contra o acto do aborto.
A mim, o que me faz confusão é a hipocrisia.
Hipocrisia nº1: em Portugal, segundo li há tempos publicado num jornal, entram, em média, 3 mulheres POR DIA em hospitais portugueses, motivadas por complicações provocadas por abortos clandestinos...
Se em cada dia temos 3 mulheres a ter complicações, quantas teremos a abortar em vãos de escada, com curandeiras e outras que tais, utilizando métodos tão científicos como as agulhas de tricot?? Quantas têm as complicações e não chegam aos hospitais? Quantas não têm complicações?

Quantas curandeiras destas ganham a vida com estas mulheres?

Hipocrisia nº2: Não levando a questão para a direita ou esquerda, ou para católicos ou ateus, ou para gente de bem e gente do povo, resta perguntar uma coisa: quem tem dinheiro suficiente para passar umas férias não programadas em Espanha (onde o aborto é legal), será realmente defensor da vida e da moralidade e dos bons costumes, ou apenas defensor do velho ditado: faz o que digo, não faças o que eu faço?

Para que não fiquem dúvidas, abomino todos os movimentos de cidadania pelo Sim e pelo Não, porque tratam esta questão como o direito à Vida, a moralidade, a religião, bla, bla, bla (os do Não), ou como o direito à escolha da Mulher, pela falta de condições económicas das famílias, etc, etc (os do Sim).

Voto Sim, pelo fim da hipocrisia...

Gracias pela oportunidade de expressar a opinião. Espero que tenhas muitas mais aqui no teu blog, porque vale a pena discutir estes assuntos. A indiferença anda de braço dado com a ignorância ;)

Unknown disse...

Sem dúvida meu amigo. Aliás, faço minhas as minhas palavras.

A mim francamente choca-me as posições extremistas a que assisto todos os dias nas notícias ou meramente em conversas de café. Pessoas que, se calhar, nunca sequer pensaram no assunto, que agora degladiam-se para aparecer numa capa de jornal ou na abertura de um telejornal a manifestar a sua opinião.

E, no fim, tudo fica na mesma.

Entenda-se uma coisa: este referendo que aí vem, nada vai resolver. Segundo, não é o aborto que está em jogo, mas sim a sua punibilidade, nomeadamente a questão de as mulheres que o façam (fora das excepções previstas nos respectivos artigos do Código Penal) deverem ou não enfrentar um processo judicial e eventualmente uma sanção penal.

Neste momento, é isto que está em jogo.

Anónimo disse...

Meus amigos, a questão de despenalizar ou não o aborto, leva a muitas outras questões. Despenalizando o facto da mulher que faça aborto, fica porta aberta para que estas, ao engravidarem, consciente ou inconscientemente, dêem cabo de uma vida.
Que matem uma vida, uma pessoa, um ser humano. E nem digam que às 10 semanas um feto, ou um embrião não é considerado vida. A partir do momento que se forme um coração, há vida. Quando bate um coração, já há vida. E às 10 semanas já há um coração a bater. Portanto, meus amigos, o facto de alguém querer abortar, só porque sim... custa-me a aceitar. Tenham mais consciência dos seus actos...

Anónimo disse...

Eu sinceramente nao precebo como e que alguem consegue votar nao.

Em primeiro lugar, o aborto faz-se sempre se fez e ira continuar a fazer-se, ficando entao unica e exclusivamente em causa duas preguntas basicas.

1)As mulheres que o praticam devemos ou nao oferecer-lhes condicoes adequadas?

2)Deve ou nao uma mulher ser punida, sentada no banco dos reus depois da practica de um aborto?

Podia aqui referir questoes etico-morais que me levariam a considerar o aborto viavel ou nao, embora nao seja disto que se trata e nem seja esta a questao essencial.

E de sublinhar ainda que muitos partidos politicos defensores do nao nomeiadamente na area da direita venham defender o nao com a errada pregunta concorda com a practica abortiva ou nao? concorda que se mate uma vida as 10 semanas ou nao?

Vivo no Reino Unido onde a dispenalizacao ate as 10 semanas e um direito ja adquirido, mas que consequentemente a pessoa a efectuar o acto abortivo e ate as ultimas aconpanhada por uma equipa de psicologos que oferecem acompanhamento e por instalacoes preparadissimas.

Ora a ai esta o fundo da questao vai ou nao o governo portugues oferecer em todos os centros de saude, postos medicos e Hospitais de distrito as condicoes minimas para que a practica abortiva seja feita nas melhores condicoes possiveis.

Um obrigado,

Joao Varela

Anónimo disse...

Consciente ou inconscientemente, fazem-se abortos todos os dias em Portugal. Não despenalizando, continuará a haver aborto clandestino. Despenalizando, o aborto passará a ser feito em condições dignas.

A conversa de que a partir do momento que for despenalizado passará a haver mais é uma pura falsidade. Óbvio que estatisticamente irá subir, porque os abortos até agora clandestinos passarão a contar.

E se a pessoa que decide terminar com uma vida às 10 semanas for a Espanha? Já não há problema de consciência moral? Ou já os seus actos foram mais conscientes e ponderados?

Volto a dizer que não sou apologista nem do sim nem do não. Sou é totalmente contra o cinismo e moralidade bacoca do discurso do faz de conta que agora ninguém aborta, mas que se a lei for alterada toda a gente quererá experimentar um aborto...

Abraço

Pedro Sepúlveda

Anónimo disse...

Três questões que se levantam nas críticas ao não:
1º- Hipocrisia
2º- Condições mais dignas às que fazem aborto
3º- Condenar-se alguém porque se fez um aborto;
1ª- Hipocrisia? De quê? De quem? Porquê? E em relação a quê? Hipocrisia sim daqueles que fazem aborto, porque querem tanto engravidar, e depois chegam à conclusão que afinal é capaz de ser uma maçada. Foram muito poucas (quase nenhumas) as mulheres que eu conheci e que disseram não querer ser mãe. Hoje, mudaram de ideias, porque não é conveniente, ou não dá jeito. Pelo menos essas, nunca engravidaram, para não serem hipócritas, e depois abortarem. E depois, os defensores do sim, pelo menos sempre têm uma desculpa para poderem ter sexo à vontade e, depois, se a mulher engravidar, ok, não há problema, aborta-se... e, no entanto, defendem o sim, só por outras razões (coitadinhas às mulheres, têm que ser condenadas, ou vão ficar mal). Isto não é também hipocrisia? Por favor, é tão hipoócrita quanto os que defendem o não, e fazem-no só para fogo de vista, mas na mesma mandam abortar. Eu compreendo o argumento da hipocrisia, mas vale para os dois lados.

2- Condições mais dignas? A questão é saber se, num País em que as questões mais polémicas, de consciência moral, são tão criticadas; num País de tradição católica (Portugal é um dos países da Europa mais católico); onde se condenam socialmente as pessoas que fazem ou são isto e aquilo, alguém realmente crê que a sua vizinha faz um aborto e vai dizer "olha, hoje vou ao hospital porque vou abortar". Não, ninguém vai dizer isso, e não sou muito crente que as coisas fiquem melhores. Continuará a haver clandestinidade. E as pessoas que não têm dinheiro para abortar, mais depressa vão a Espanha, do que abortam clandestinamente (é muito mais caro abortar clandestinamente em Portugal, do que abortar em Espanha, onde é legal). Mas esse nem é o ponto. O ponto é que quer uma coisa, quer outra é abominável.
Quer o aborto assistido, quer o aborto clandestino é contra natura. E não digo isto por ser cabeça quadrada, mas apenas pergunto: se há intenção de abortar, porque engravidaram? Porque admitiram ter um filho? E não me digam que foi porque o preservativo rompeu, ou porque houve violação, ou etc. Neste último caso, a lei já contempla a legalidade do aborto.
E mais haveria a dizer sobre isto, mas não me estenderei mais...
3º- Condenar-se alguém porque se fez um aborto? Há quantos anos Portugal não tem nenhuma condenada por aborto? Muitos. Analistas dizem que há 30 anos que ninguém é condenado por abortar. Isto sim, é uma hipocrisia. Juízes que não condenam, porque entendem o lado da mulher que abortou. Mas quanto a mim, não se devia levar ao banco dos réus só a mulher. Também as pessoas todas envolvidas: o médico, ou a parteira que o fez; o marido ou namorado, ou pais, ou seja quem for que tenha incentivado.
E quando se diz que não está em causa tirar a vida ou não de um bebé, mas despenalizar-se o acto, eu pergunto: porque é o aborto um crime? Porque é que o legislador tipificou como crime o facto de uma pessoa abortar? Porque se estava a tirar uma vida. É só por isso que o aborto é crime, senão não seria. Despenalizando-se o aborto, é o mesmo que estar a dizer: podes matar o ser humano que está dentro da tua barriga, mas desde que seja só até às 10 semanas.
O referndo põe isto em causa, e não queiram atirar areia para os olhos de ninguém. O aborto é crime porque se tira uma vida. A vida é inviolável. Até um certo ponto. Não faz mossa aos defensores do sim, que se mate um bebe de 10 semanas, ainda que seja uma vida intra uterina, mas é horroroso matar-se um bebé de 10 semanas, depois deste já estar nascido? Não será também isto uma hipocrisia? O que os olhos não vêem, o coração não sente.
Eu entendo que o bem mais precisoso é a vida humana, e esta existe desde o momento que é gerada, antes sequer do momento em que a mulher sabe que está grávida. Para mim, a vida começa a existir quando se dá o big bang entre um óvulo e um esperma, e este gera a vida. nem que seja uma semana, um dia... já existe vida. E é isso que vamos permitir que se mate. SIM, porque despenalizar-se o aborto, é o mesmo que dizer mate-se a criança dentro de vós. Não me venham com lengas lengas.
Por isso, voto Não. Voto Não porque nós temos que preservar a vida.
Mas não defendo que quem vota sim é contra a vida. Não chego a esse extremo. E até compreendo as razões das pessoas que votam Sim. A segunda razão, o das condições mais dignas. Mas não aceito, nem compreendo a questão da hipocrisia, porque isso é igual para os dois lados.
Não aceito o argumento da humilhação, porque quem faz a humilhação é a comunicação social.
Ninguém fica a saber que a Josefina de Freixe-de-Espada-a-Cinta abortou, se não for lá a comunicação social. Portanto, também não venham com esse argumento.
Por último, Voto não, porque entendo, católico como sou, que só Deus é que pode dar e tirar a vida. De resto, mais ninguém.

Anónimo disse...

Sem querer monopolizar o debate, antes querer continuá-lo, gostaria de me alongar mais sobre a minha posição pessoal relativamente ao aborto e ao referendo, porque as entendo como questões diferentes.

1º lugar: o aborto. Eu acho horrível o acto do aborto. Não creio que numa situação pessoal chegasse a optar pelo aborto. Não concebo o aborto como método contraceptivo, e acho inqualificável que possa ser encarado como tal. Também não consigo conceber que uma mulher o entenda como método contraceptivo. Aliás, tenho grandes dificuldades em perceber quais os motivos que levam a tal acto, e quais as sequelas que deixam nas referidas mulheres. À pergunta: Concorda com o aborto? Ou: É a favor do aborto? A minha resposta seria sempre Não.

A meu ver, não é isso que está em questão.

2º lugar: o referendo. O referendo aparece na sociedade portuguesa pela 2ª vez em 10 anos. Na primeira vez que apareceu, foram amplamentes discutidos os prós e os contras da sua despenalização. Há quase 10 anos, ninguém sabia ao certo quantos abortos eram feitos em Portugal, na clandestinidade. Uma coisa era certa, haviam muitos abortos clandestinos, e havia uma lei que penalizava mas que chegando a tribunal nenhum juíz chegava realmente a aplicar.
Além disso, após a vitória do Não, todos concordaram que havia que trabalhar no sentido de informar melhor os jovens, formá-los para a sexualidade, aumentar o investimento em planeamento familiar, etc, etc, de forma a minorar este problema.

10 anos se passaram, e em que ponto estamos? Continua a haver um número indeterminado de abortos clandestinos em Portugal, continuam a não haver estudos sobre os porquês das mulheres abortarem, continuam a não haver juízes a aplicarem a lei, continua a não haver investimento suficiente na formação sexual e no planeamento familiar.

Se temos uma lei que não é aplicada, um problema que não é percebido, estudado ou resolvido, o que fazer? Nada? Deixar tudo na mesma e achar que não há problema nenhum?

À pergunta do referendo vou votar Sim, porque acho que poderei sempre manter a minha opinião pessoal sobre o assunto. Não o quero para mim, e como não percebo porque outros o fazem (e que o fazem é indiscutível), também não os limito a escolha, até porque gosto muito pouco de sub-mundos, esses sim criminosos, onde imperam as agulhas de tricot.

Não conheço exactamente a pergunta que foi aprovada, mas a encaro-a como se tivesse o seguinte texto: Concorda com o aborto feito em vãos de escada, por talhantes empunhando agulhas de tricot, até às 30 semanas, ou prefere antes que seja realizado em estabelecimento médico legalmente autorizado, e até às 10 semanas?

Prefiro a 2ª hipótese, por isso voto sim.

Outro ponto para a discussão: se Deus dá e tira a vida, quem somos nós para permitir que uma mulher violada aborte? Qual dos "interesses" se sobrepõe? O da mulher, que foi violada, ou o da inocente vida que está dentro dela?

Esta é fácil de perceber, e nem tem grande discussão... Volto a dizer que como não percebo o que leva algumas mulheres a abortarem, concedo-lhes esse direito como lhes concedo nos casos em que percebo (violação, etc).

Anónimo disse...

Este referendo devia ser composto por duas perguntas:

1ª - Concorda com a interrupção voluntária blá, blá (a pergunta actual)?

2ª - Concorda que esse acto seja comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde se e só se a mulher aceitar passar por aconselhamento psicológico e somente após esta ter verdadeira consciência daquilo que vai fazer e quais as alternativas que existem a esse acto extremo?

É que o nosso Primeiro Ministro já disse que fará os convénios necessários com a medicina privada para garantir que os abortos sejam feitos dentro do "prazo de validade", em complemento com o sector público da Saúde. A preocupação do primeiro-ministro é só garantir os abortos. Não devia ele preocupar-se também em fazer convénios com psicólogos (e com outros profissionais de saúde necessários) para garantir que a mulher é acompanhada, informada sobre quais as opções que tem ao seu dispor (para além do aborto) e devidamente consciencializada sobre as mazelas físicas e psíquicas originadas pelo aborto?

Também há outro aspecto: imaginemos a Sr.ª Esmengarda, que está há dois anos à espera de uma operação às cataratas, quando finalmente lhe dizem que a operação está marcada para o dia tal. Chegado o dia tal, a senhora vai ter ao "estabelecimento médico legalmente autorizado" e dizem-lhe que a sua operação vai ter de ser adiada porque há dois abortos que têm de ser feitos e são considerados prioritários em relação à operação às cataratas. Lá vai a senhora para casa esperar mais uns meses (?)...
Será que o nosso primeiro-palhaço, perdão, primeiro-ministro vai conseguir fazer os abortos dentro do prazo, mesmo com os convénios com o sector privado? E isso sem colocar o sistema em colapso, aumentando ainda mais as listas de espera para aquilo que actualmente já tem enormes listas de espera?

Para além de que o PS e o Governo suportado por este partido está a ter uma atitude de "talibã"... Dizem que ou votam "sim" ou fica tudo na mesma (entre outros, Vera Jardim, PS, no Prós & Contras, RTP 1). Mesmo que o "Não" ganhe, é possível melhorar a lei actual, mantendo a penalização actualmente existente.
Introduzir alterações processuais que possam melhorar a lei actualmente existente, alterar as penas previstas, etc. Mas não! A atitude deles é de "ou fazem aquilo que eu quero ou não fazem nada.". É Sim ou... Sim! E dizem-se democratas, que respeitam o povo, blá, blá, blá! Não é nada que não se espera de um governo que promete o paraíso e, quando chega ao poder, dá o inferno ao país e àqueles que o elegeram... mas acho que isto são comportamentos ditatoriais mascarados de democracia!

Aquilo que é defendido pelo "Sim", pelo PS e pelo Governo é o aborto livre, pago por todos nós, sem mais nada.

Também acho que o argumento de que o feto/embrião é uma coisa e que só passa a um ser humano em gestação após 10 semanas e 1 dia é estúpido e estupidificante. Para estes, aconselho a visualização destes vídeos da National Geographic.

Também o argumento de que não se deve fazer nascer crianças indesejadas dá que pensar: para resolver o problema devemos matar, pura e simplesmente, ou devemos melhorar os sistemas de apoio à família, protecção de menores, adopção, etc.? Com que cara olharemos para alguém, daqui a 20 anos, e dizemos "olha, é com muita sorte que estás aqui, porque ia abortar-te...". Muitos irão agradecer à sua progenitora por não o ter abortado...

Mas, caso o "Não" ganhe, é preciso fazer alguma coisa. Não é só passar as mesmas cassetes de que se devem dar mais apoios, ajudar as mulheres, etc, até ao dia 11/02 e depois não fazer mais nada, porque já está ganho (até porque os partidos de esquerda farão outro referendo daqui a uns anos, até que o "Sim" passe - mais um comportamento "democrático").

Enfim, há que pensar em tudo isto, antes de tomar uma decisão. É que há muita gente que defende várias coisas e vai manifestá-las com uma cruz no quadrado "Sim". Só que o seu "Sim" não vai corresponder àquilo que o Governo vai fazer, se o "Sim" ganhar. É que aquilo que o governo diz que vai fazer vem nos jornais numa coluna de 4 x 3 cm com letras de tamnho 4. Só no dia 12 é que essas notícias vão ter destaque de página inteira e a maioria da população vai saber que não foi bem naquilo que votaram.

Para quem leu isto até ao fim, pense bem naquilo que vai fazer depois de amanhã.
Eu ainda tenho que pensar...