segunda-feira, julho 11, 2005

Srebrenica: o massacre que surpreendeu a ONU

A 7 de Julho de 1995, as Forças Servo-Bósnias lideradas pelo general Ratko Mladić ocuparam o enclave de Srebrenica, a primeira zona de protecção da guerra civil bósnia (1992-1995), cuja protecção havia sido entregue aos capacetes azuis holandeses.

A maioria dos civis fugiram para Potočari, a principal base das forças da ONU no território, ou foram metidos em autocarros para o território controlado pelo governo. Na base, que havia sido tomada pelas forças sérvias, estas dividiram a população civil em grupos de homens, mulheres e crianças. Uma parte da população masculina, incluindo soldados, idosos e jovens, formaram uma coluna e tentaram forçar caminho para Tuzla situada no território controlado pelos Bósnios. Um "exodus" similar ocorreu na cidade de Zepa, igualmente tomada pelos Sérvios. Foram contadas cerca de 12,500 pessoas no total.

Na tentativa de fuga, estas foram cercadas pelas forças Sérvias, que abriram fogo sobre a população, usando canhões anti-aéreos e metralhadores de grande calibre. Centenas foram mortos na emboscada, com muitos outros feridos e sistematicamente executados mais tarde. Aqueles que escolheram render-se foram levados pelas forças Sérvias e igualmente executados. O exército sérvio continuou a perseguir o restante grupo, matando centenas de homens, até aos limites do território controlado pelo governo bósnio. De 12,500 homens estima-se que apenas 5000 conseguiram escapar em segurança.

Em Srebrenica, o exército Sérvio separou as mulheres e crianças dos homens (civis). A definição para a idade que os qualificava como homens ia mudando rapidamente, e cedo passou a incluir todos desde os 14 anos aos 65 anos de idade. Eram entregues doces às crianças enquanto que os homens eram reunidos e executados.

Devido à natureza destes eventos, à muita confusão e propaganda de ambas as partes, o número exacto dos vítimas ainda hoje é discutido. Apesar dos Servo-bósnios desde logo terem sido acusados do massacre, foi apenas em Junho de 2004, após um relatório preliminar da Comissão de Srebrenica, que os oficiais sérvios admitiram que foram as suas forças que levaram a cabo o massacre. O relatório final da Comissão Sérvia sobre o que ficou conhecido como o "Massacre de Srebrenica", dizia que, em 1995, cerca de 7800 bósnios, homens e rapazes, foram executados pelas tropas sérvias.

O processo de descobrir os corpos da vítimas na região de Srebrenica, muitos em valas comuns, exumá-los e finalmente identificá-los, tem sido relativamente lento. Por volta de 2002, cinco mil corpos haviam sido exumados, mas apenas 200 haviam sido identificados. No entanto, desde essa data, já se procedeu à identificação de cerca de 2000 corpos, e o número de exumações subiu para seis mil.

Massacre de Srebrenica surpreendeu tropas da ONU

O comandante dos capacetes-azuis holandeses em Srebrenica aquando do genocídio de Julho de 1995 garantiu só ter percebido as intenções dos sérvios da Bósnia "três ou quatro dias" após a invasão do enclave muçulmano. "De início, as ordens eram para protegermos os refugiados", mas depois, "confrontámo-nos com um facto consumado: as tropas sérvias invadiram a cidade e evacuaram os refugiados colocados sob a nossa protecção", explicou Ton Karremans numa audiência preliminar no Tribunal de Haia, acrescentando que os seus superiores lhe pediram para "observar e apoiar" a evacuação.

A investigação judicial sobre a actuação dos capacetes-azuis holandeses durante o massacre de Srebrenica destina-se a apurar se as famílias das vítimas podem apresentar uma queixa contra a Holanda. Karremans surgiu no tribunal na defensiva, explicando ao pormenor as decisões que tomou durante a invasão da cidade e o massacre que se lhe seguiu. O ex-comandante dos capacetes-azuis holandeses recordou ainda os encontros com o chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, e com representantes dos refugiados muçulmanos para preparar as evacuações. As famílias muçulmanas de Srebrenica foram obrigadas a abandonar o campo de refugiados em autocarros controlados pelas tropas sérvias. Nos dias seguintes à invasão da cidade, cerca de oito mil muçulmanos foram massacrados, sem que as tropas holandesas interviessem.

Esta é uma tragédia que o Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Jugoslávia classificou como genocídio. Os dois principais acusados pelos crimes de guerra em Srebrenica, Mladic e Radovan Karadzic, continuam em fuga. Oito outros oficiais sérvios foram transferidos para o TPI nos últimos meses. Em 2002, o genocídio de Srebrenica levou à demissão do Governo holandês chefiado por Wim Kok, após a divulgação de um relatório que sublinhava a sua incapacidade para dar meios aos capacetes-azuis que garantissem o sucesso da sua missão.

Sem comentários: