segunda-feira, julho 25, 2005

O segredo da longevidade política de AJJ

O PSD realizou, ontem, no Chão da Lagoa, aquela que foi a maior festa dos últimos tempos, em termos de participação popular

«Não há ninguém como esta criatura!» Com um olhar de admiração genuína, Maria Helena Oliveira aperta a mão ao presidente, o «homem a quem deve tudo», ou, quando o calor da emoção aperta mais, «um anjo».

Do alto dos seus 74 anos ainda arranja força para enfrentar a multidão e chegar à fala com Alberto João Jardim. Pede uma bandeira para colocar em casa, e garante que quando há eleições vota sempre «no senhor».

A fidelidade é apreciada por Jardim, que realça a dedicação daquela mulher vinda do mesmo povo que lhe deu já 37 vitórias eleitorais, e diz que ali está um «exemplo para a burguesia cinzenta que não vai à Festa Popular, mas que pede favores à Quinta Vigia».

E foi realmente o povo quem, ontem, maioritariamente marcou presença no Chão da Lagoa, naquela que, embora sem números definitivos, arrisca-se a ser a maior festa realizada pelo PSD nos últimos anos.

Há quem atribua o fenómeno ao profissionalismo da máquina laranja, outros à vedeta brasileira cabeça-de-cartaz, mas é também inegável que entre Jardim e o povo continua a haver uma forte ligação.

É o povo e não os notáveis do partido quem acompanha Jardim numa alucinante visita de quase duas horas por mais de 50 barracas, onde estão representadas todas as freguesias da Região e outras estruturas do poder laranja, como a JSD e os TSD.

E é a esse mesmo povo a quem o presidente dirige as primeiras palavras quando sobe ao palco. O povo a quem chama de amigo, o povo a quem entrega a obra feita, o povo ao qual pede para dar as mãos e acompanhá-lo no canto do "Coro dos escravos Hebreus", de Verdi, clamando por uma Madeira Livre.

Mas, quando limpa as lágrimas em cima do palco, emocionado com o mar de gente a seus pés, Alberto João Jardim tem já em cima das costas uma dura maratona de beijos, abraços, empurrões; e uma verdadeira aventura gastronómica, no decorrer da qual come e bebe de tudo, das lapas, ao bolo de mel, do licor ao vinho seco.

Jardim está ali como peixe na água. Fala a mesma linguagem do povo que o rodeia. É politicamente incorrecto, diz palavrões, conta piadas brejeiras. Dá autógrafos, distribui beijos às meninas, senhoras e madames. «Venham com o titio», diz com ar maroto, e logo fica claro que é ele, e mais ninguém, quem mais se diverte com tudo aquilo.

Pelo caminho vai lançando farpas, umas dedicadas à oposição, outras à comunicação social.
Pega num "chicharro", come-o pela cabeça e promete fazer o mesmo ao PS. Olha depois para os jornalistas e assegura que quando for a revolução «serão todos julgados em tribunal popular».

Depois, há uma senhora continental que chega, que confessa a sua admiração ao líder madeirense, que o acompanha numa poncha. Jardim partilha do mesmo copo, e avisa: «Já pus os lábios nesse seu copo», porque, afinal, «comigo mulher bebe».

É, enfim, Jardim no seu melhor, e as freguesias vão-se sucedendo, umas atrás das outras. O líder do PSD canta em todas elas, do despique ao bailinho.

Fala inglês, espanhol e até francês. O povo acompanha-o sempre, gritando o seu nome, até que o presidente diz que devem «mandar o Alberto João à m....», «e cantar algo mais clássico». Afina a garganta e canta «minha mãe casai-me cedo...».

O povo vibra. Um homem dá um abraço de velhos amigos a Jardim, e garante que «dos outros bandidos nem aceitaria uma bandeira de ouro».

O líder histórico do PSD/M não esmorece, aguenta firme a mais de meia centena de barracas. Há quem fique pasmado com tanta resistência. Quem pergunte qual é o segredo. Talvez fé.

Ontem, numa das muitas barracas, Alberto João Jardim dizia que quando chegou ao Governo deu ordens para que a igreja de Nossa Senhora do Monte fosse sempre iluminada. Assim se fez e o presidente confessa que nunca se deu mal.

in DN MADEIRA

É isto que as pessoas "outside" Madeira não compreendem. Não compreendem o que é o AJJ. O animal político que vive na Ilha. Não percebem como é que um homem que os insulta diariamente, que é incorrecto, mal educado, ameaçador e com laivos de ditador, consegue há mais de 25 anos, o voto do povo. São 37 vitórias seguidas nas urnas. É record de certeza.

AJJ é assim. Nasceu para isto. Tem a atitude populista que atraí a mais simples das pessoas. O povo. E é o povo quem manda e quem decide. Não são meia dúzia de burocratos, tecnocratas e intelectuais que dão o rumo ao país. São pessoas como o AJJ, capazes de mobilizadar multidões, que têm o verdadeiro poder nas mãos.

Isto é o que as pessoas não compreendem. E enquanto não perceberem isto, o AJJ continuará a rir-se, a insultar e a humilhar e... a derrotar, toda a sua oposição política...

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