sábado, julho 02, 2005

Live 8: Concerto contra a pobreza em África

Artistas tocam ao vivo em dez palcos mundiais

Em dez palcos - Londres, Cornualha, Berlim, Paris, Roma, Moscovo, Filadélfia, Barrie, Joanesburgo, Tóquio -, dezenas de artistas tocam hoje contra a pobreza em África. É o maior concerto humanitário da história e é mais político do que o seu antecessor de há 20 anos, o Live Aid. O organizador é o mesmo, Bob Geldof, e quer agora que a pressão da opinião pública obrigue os políticos a pôr África na agenda.

Em Londres, o Live 8 reúne os Pink Floyd, 24 anos após o último concerto. O baixista Roger Waters reencontra os três companheiros, com quem andou muitos anos de relações cortadas e em tribunais sobre direitos sobre o nome do grupo."Quaisquer desavenças que Roger e a banda tenham tido no passado são insignificantes neste contexto", disse o guitarrista David Gilmour.

Os U2 (de Bono), que estiveram no Live Aid, tocam em Londres e seguem para Viena para mais um concerto da digressão de apoio ao álbum How To Dismantle An Atomic Bomb. Os Coldplay, uma das maiores bandas da actualidade, tocam também em Hyde Park. Nos restantes palcos, releve-se uma rara apresentação ao vivo de Stevie Wonder, em Filadélfia, e de quatro veteranos em Berlim: o ex-Beach Boys Brian Wilson e o grupo Crosby, Stills and Nash (sem Neil Young). Nos últimos dias, havia bichas um pouco por todo o Reino Unido para conseguir um bilhete de última hora para o concerto de Hyde Park.

Vinte anos depois do Live Aid, a fome em África não desapareceu, mas os dez megaconcertos de hoje não têm como alvo principal angariar fundos para alimentar o continente e sim fazer pressão sobre os líderes mundiais através da opinião pública. É ao Grupo dos Oito (G8), que tem a sua cimeira anual na Escócia de 6 a 8 de Julho, que o Live 8 é também dirigido - serão uma espécie de espectadores-fantasmas.

Vinte anos depois, o maior evento musical e humanitário da história está mais político. Com um milhão nas ruas e 5500 milhões de telespectadores previstos, Bob Geldof e Bono Vox, que relançaram o evento há dois meses, querem levar George W. Bush, Tony Blair, Jacques Chirac, Gerhard Schroeder, Silvio Berlusconi, Paul Martin, Junichiro Koizumi e Vladimir Putin a perdoar a dívida de África, a duplicar a ajuda ao continente e a promover um comércio mais justo.

Quando o alinhamento foi revelado no início de Junho, Bob Geldof, o músico irlandês mentor do Live Aid, disse: "Nós não queremos o dinheiro das pessoas; nós queremos as pessoas." Geldof tem a expectativa de que o envolvimento de algumas das maiores estrelas pop/rock mundiais nos concertos simultâneos "crie pressão política interna" em cada um dos oito países mais industrializados do mundo.

A fadista Mariza, a única artista portuguesa no Live 8 (actua às 18h30 nos arredores de St.Austell, na Cornualha), também "espera poder puxar uns cordelinhos para os políticos perdoarem a dívida de África". Mariza, que nasceu em Moçambique, actua no palco dedicado a África (não existia no início) e foi convidada a participar por Peter Gabriel. "A ideia do Live 8 é conseguir chamar a atenção do G8 para que há um problema grave. Portugal não podia ficar de fora, porque tem uma grande história com África, um romance..."

Mas como é que as estrelas pop podem ajudar África? Um porta-voz do Live 8 respondeu aos cépticos, quando vozes como Damon Albarn, o líder dos Blur e dos Gorillaz, disseram que o evento era demasiado "anglo-saxónico" (branco) e não fazia nada para promover uma imagem positiva de África: "A intenção de Bob Geldof é conseguir concertos, capazes de agarrarem os media, com pessoas que enchem estádios e arenas." E o próprio Geldof afirmou: "O Live 8 não é um acontecimento cultural, mas um acontecimento político. Precisamos dos artistas mais conhecidos para reunir o máximo de gente. O critério é a popularidade e as vendas."

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