sexta-feira, junho 24, 2005

A culpa é do... irmão gémeo desaparecido!!


(foto: Luis Tejido/EFE)

Tyler Hamilton, campeão olímpico do contra-relógio, tem no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) a última hipótese de evitar ser suspenso por dois anos, devido a doping através de uma transfusão com sangue de um dador. A defesa do ciclista continua a alegar que o controlo positivo, registado na Volta à Espanha do ano passado, se deve ao facto de a medula óssea de Hamilton ser capaz de produzir dois tipos de sangue diferentes, pois, para além das células estaminais do próprio ciclista, terá ainda células transmitidas por um irmão gémeo, destruído pelo corpo da mãe nos primeiros meses de gestação.

A teoria de que Hamilton é uma quimera, por transmissão de células estaminais de um irmão gémeo, foi apresentada à defesa do ciclista por David Housman. Este professor de biologia molecular do Massachussetts Institute of Techonology (MIT) disse ao “The New York Times” (NYT) que, ao ler as primeiras notícias sobre este caso de alegada dopagem, se lembrou que as transfusões sanguíneas podem não ser a única explicação para a presença de dois tipos de glóbulos vermelhos no sangue de uma pessoa.

Segundo Housman, a ciência demonstrou que as quimeras são comuns e que as células intrusas podem parar de produzir sangue de um momento para o outro. É desta forma que o cientista do MIT explica o facto de os testes efectuados a Hamilton depois do controlo antidoping positivo da Vuelta já não terem detectado duas populações diferentes de glóbulos vermelhos.

Alguns cientistas não envolvidos no caso, ouvidos pelo NYT, sustentaram a possibilidade de Hamilton ser uma quimera. Helain Landy, investigadora da Georgetown University, afirmou que 20 a 30 por cento das gravidezes começam como gémeos e terminam com apenas um bebé, com o outro feto a ser absorvido pelo corpo da mãe ainda nos primeiros três meses. Ann Reed, chefe do grupo de pesquisa de reumatologia da Mayo Clinic, disse que, através de testes de ADN, é possível perceber que 50 a 70 por cento das pessoas são quimeras. E que talvez isso seja a razão pela qual alguns transplantes de medula óssea são rejeitados pelo corpo do paciente, apesar de este ser compatível com o dador, ou porque algumas pessoas são atacadas pelo próprio sistema imunitário, provavelmente pelos glóbulos brancos produzidos por células estaminais herdadas do gémeo desaparecido.

Aviso da UCI

Apesar de ser inovadora, a defesa não conseguiu convencer a Associação Americana de Arbitragem (AAA), que em Maio deu razão à Agência Antidoping dos EUA (USADA) e aplicou uma suspensão de dois anos ao ciclista, considerando que há uma “probabilidade negligenciável” de Hamilton não ser culpado.

Decisivo foi o testemunho do australiano Ross Brown, do Royal Prince Alfred Hospital, instituição que desenvolveu para a Agência Mundial Antidopagem (AMA) o método de detecção de transfusões sanguíneas. Brown disse ao NYT que já analisou mais de 20 mil amostras de sangue, sem ter encontrado quimeras, e considerou que os resultados dos testes efectuados por Hamilton no último ano mostram que ele se dopou e parou quando foi apanhado. O cientista australiano lembrou ainda que, pouco depois do caso Hamilton, outro ciclista da Phonak, o espanhol Santiago Pérez, registou também dois controlos positivos por transfusão sanguínea. “Parece-me inconcebível que haja duas quimeras raras na mesma equipa de ciclismo”, vincou.

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